Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Rolling Stones chegam aos 80 com disco excepcional – e de olho no futuro

Feito com garra, foco e frescor, o álbum contém os marcos característicos da banda

Por José Emilio Rondeau
Atualizado em 4 jun 2024, 10h18 - Publicado em 20 out 2023, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Quebre e agarre. Smash and grab, em inglês. Um furto rápido, uma ação-­re­lâm­pa­go, alavancada pelo elemento-surpresa. Era esse o título original de Hackney Dia­monds — o primeiro álbum de músicas inéditas dos Rolling Stones em quase duas décadas e o 24º de sua discografia, lançado na sexta-feira 20 — e já dava uma pista para o sentimento de urgência do disco concebido, ensaiado, gravado e concluído a toque de caixa, de dezembro de 2022 a fevereiro de 2023, na Jamaica e em estúdios espalhados por Estados Unidos, Inglaterra e Bahamas. E anunciado em agosto passado, quando ninguém esperava por ele.

    As verdadeiras aventuras dos Rolling Stones

    Sem dar ao mundo novidades desde A Bigger Bang, editado em 2005 (Blue & Lonesome, de 2016, trazia versões de clássicos dos blues que inspiraram a formação da banda), período em que se ocuparam de sucessivas turnês, Mick Jagger, Keith Richards e Ronnie Wood — dois fundadores e o remanescente da formação que vinha trabalhando desde 1975 — pre­pararam Hackney Diamonds com prazo de início e término estabelecidos, quando Mick decidiu que era hora de lançar algo novo. Os Stones estavam sendo “preguiçosos”, admitiu ele, e o tempo, ao contrário do que pregava uma de suas gravações mais famosas da década de 60, já não estava mais do seu lado.

    FEITIÇO DO TEMPO - Os primórdios dos Stones: já são 61 anos de estrada
    FEITIÇO DO TEMPO - Os primórdios dos Stones: já são 61 anos de estrada (Michael Ochs Archives/Getty Images)

    O baterista Charlie Watts tinha 80 anos quando morreu, em 2021 — Mick e Keith estão na mesma faixa (Jagger chegou lá em julho e Ri­chards faz aniversário em dezembro), enquanto Ronnie soma 76. A mortalidade para os Stones hoje, portanto, é algo definitivamente palpável. Há muito mais estrada para trás do que pela frente. No entanto, aqui eles desafiam o tempo e a própria idade — e demonstram fome de jogo. Hackney Diamonds inaugura o que o grupo anuncia como sendo “uma nova era dos Stones”, com Steve Jordan agora ocupando a bateria — uma sucessão definida pelo próprio Charlie Watts, quando já estava doente.

    O Sol & a Lua & os Rolling Stones: Uma biografia

    Continua após a publicidade

    Muito do novo disco deve-se a outro elemento externo: Andrew Watt, nova-iorquino de 33 anos, requisitado produtor de artistas como Pearl Jam, Miley Cyrus, Post Malone e Iggy Pop, arregimentado por Jagger para ajudar a dar o que Richards definiu como um “reset” nos Stones. Andrew (que toca baixo em várias faixas) respeitou e valorizou as características vintage do grupo, mas trouxe-o para a primeira linha do século XXI de um modo que pode aproximar os Stones das novas gerações sem alienar os velhos fãs.

    HOMENAGEM - O último show de Watts (à dir.), em 2019: lidando com a finitude
    HOMENAGEM - O último show de Watts (à dir.), em 2019: lidando com a finitude (Rich Fury/Getty Images)

    Hackney Diamonds é um disco enxuto, coeso, musculoso. Feito com garra, foco e frescor. Ele contém os marcos característicos de um disco dos Stones: canções explosivas, com riffs na cara (Angry, o primeiro single, que abre o disco), baladas plangentes (Depending On You, em que a guitarra slide de Ronnie se une harmonicamente ao órgão Hammond de Benmont Tench), incursões country (a lânguida Dreamy Skies), soul e gospel à enésima potência (Sweet Sounds of Heaven, o apoteótico ponto alto do álbum, compartilhado com Lady Gaga e Stevie Wonder), as guitarras de Keith e Wood se entremeando, Jagger cantando com estilo, marra e potência. Mas é bem mais que isso.

    Let It Bleed (50th Anniversary Edition) [LP]

    Em vez de ser um disco reflexivo sobre a maturidade e a inevitabilidade da finitude feito por veteranos — vide os brilhantes álbuns invernais de Paul Simon (Seven Psalms) e David Bowie (Blackstar) —, Hackney Diamonds é um ato de reafirmação de propósito, inquieto, determinado a não ser um fac-símile pálido de glórias passadas, disposto a apostar em sua relevância num mundo tão diferente daquele em que os Stones surgiram. E é um disco superpop, empolgante, que se comunica com o lado mais radiofônico do grupo.

    Continua após a publicidade
    PARCERIAS - Wood e Jagger com Lady Gaga e o produtor Watt: frescor musical
    PARCERIAS - Wood e Jagger com Lady Gaga e o produtor Watt: frescor musical (@therollingstones.zonee/Instagram)

    A passagem do tempo vem à tona, sim — como em Tell Me Straight (“será que meu futuro está todo no passado?”), cantada por Keith Richards —, mas o foco, no geral, é na frente, não lá atrás. Afinal, Jagger propõe, no clímax de Sweet Sounds of Heaven: “Vamos deixar os velhos acreditarem que são jovens”. Charlie Watts comparece em duas faixas gravadas em 2019, dois polos opostos do disco: a dançante Mess It Up e o rock rasgado Live By The Sword, em que toca também o baixista Bill Wyman (que deixou os Stones em 1993), formando a locomotiva original da banda uma última vez, com Elton John arrematando ao piano. E a lista de convidados é completa com Paul McCartney num contrabaixo exageradamente distorcido para pontuar a suja e moleque Bite My Head Off, divertida brincadeira punk.

    O disco termina do modo mais acertado possível. Jagger e Richards, munidos só de voz, gaita e violão (do mesmo modelo usado por Robert John­son, mítico patrono do blues), mergulham em Rollin’ Sto­ne, composição ancestral de Muddy Waters cujo título batizou o grupo. É um momento primal que encerra um ciclo de música e de vida com emoção. Ainda assim, Hackney Diamonds não deve ser um capítulo final na saga da autoproclamada maior banda de rock do mundo. Há a possibilidade real de uma turnê a partir de 2024 — que poderia trazê-­los ao Brasil — e de nova leva de inéditas recentes sair nos próximos anos. “Já temos quase três quartos do próximo disco gravados”, disse Jagger em entrevista. “Não creio que esse seja o último álbum dos Rolling Stones.” Com 61 anos de estrada, os Stones estão de olho no futuro.

    Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2023, edição nº 2864

    CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

    Rolling Stones chegam aos 80 com disco excepcional – e de olho no futuroRolling Stones chegam aos 80 com disco excepcional – e de olho no futuro
    As verdadeiras aventuras dos Rolling Stones
    Rolling Stones chegam aos 80 com disco excepcional – e de olho no futuroRolling Stones chegam aos 80 com disco excepcional – e de olho no futuro
    O Sol & a Lua & os Rolling Stones: Uma biografia
    Rolling Stones chegam aos 80 com disco excepcional – e de olho no futuroRolling Stones chegam aos 80 com disco excepcional – e de olho no futuro
    Let It Bleed (50th Anniversary Edition) [LP]
    logo-veja-amazon-loja

    *A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.