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Rodrigo Santoro sobre Westworld: ‘Segunda temporada é cheia de revelações’

Ator brasileiro volta a interpretar o pistoleiro Hector, um ser sintético na série da HBO

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 30 abr 2018, 12h17 - Publicado em 22 abr 2018, 07h28
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  • Por sua última cena na primeira temporada da série-fenômeno Westworld, era de se esperar que Rodrigo Santoro não retornasse para a segunda. Seu pistoleiro Hector desafiava sozinho um grupo de seguranças e ficava para trás na fuga de Maeve (Thandie Newton) da sede do parque Westworld, em que seres sintéticos chamados de anfitriões cumpriam narrativas predeterminadas, ambientadas no Velho Oeste para agradar aos hóspedes humanos, que podiam fazer de tudo, inclusive matar e estuprar os androides. Claro que, sendo um anfitrião, sempre existe a possibilidade de um conserto e um reboot. E aparentemente é isso o que acontece na segunda temporada, já que o ator brasileiro está de volta à série de Jonathan Nolan e Lisa Joy, produzida por J.J. Abrams, que estreia sua nova leva de episódios neste domingo, às 22h, na HBO.

    Westworld é um fenômeno na linha Game of Thrones, com fãs que inventam teorias sobre o que realmente se passa na trama. Depois da aparente tomada de consciência de alguns dos anfitriões, como Maeve e Dolores (Evan Rachel Wood), que atirou em convidados da empresa dona do parque, Delos, durante uma festa, outras questões foram levantadas. Até que ponto se trata de consciência ou de uma nova narrativa do parque?, por exemplo.

    Em entrevista ao site de VEJA, Santoro disse que muita coisa vai ser revelada sobre o parque — inclusive a existência de outros, como o Shogun World — e o que está além dele. O ator também falou sobre sua relação com a tecnologia e como ela o ajuda a se relacionar com a filha bebê e a esposa:

     

    Obviamente você está na segunda temporada. O que pode dizer sobre a jornada do seu personagem? Desta vez, eu tenho coisas para falar. Eles deixaram a gente falar de algumas coisas da segunda temporada. É uma jornada de busca da própria identidade. Os anfitriões estão livres das narrativas que foram criadas por outros para eles, então a questão é o que farão com essa liberdade. É uma jornada de descobrimento, de autodeterminação. O parque se encontra em um caos absoluto. Agora, vai ficar claro que a primeira temporada era a pontinha do iceberg. A gente explora o que mais tem no parque e o que existe além dele. Para isso, existe um bom entendimento do que é a Delos, a corporação por trás do Westworld, e a gênese disso tudo.

    A Delos tem um plano secreto, certo? O parque é só brincadeira perto dos planos da Delos. É muito além. A minha sensação ao ler os roteiros era de absoluta surpresa e estímulo. Muita gente começou a criar suas teorias na primeira temporada. Agora fica tudo bem mais claro. A segunda temporada é reveladora, vai simplesmente desembrulhando os presentes. Não são pistas, são revelações. Acho que vai ser muito mais forte do que a primeira.

    A minha sensação ao ler os roteiros era de absoluta surpresa e estímulo. A segunda temporada é reveladora, vai simplesmente desembrulhando os presentes. Não são pistas, são revelações

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    Você acompanha as teorias? Acompanho porque as pessoas se aproximam e perguntam. Eu acho que agora a gente está começando a realmente conhecer as personagens. Muita gente chegava para mim dizendo que o Hector era o vilão. E a série é exatamente sobre isso: quem é o quê? Quem é vilão? Quem é mocinho? São esses dilemas morais que a série explora. Agora, na segunda temporada, como temos os anfitriões numa posição completamente diferente, já que os humanos não têm mais poder absoluto, o que acontece com a liberação de pessoas que estavam oprimidas? Tudo é muito metafórico. Na verdade, se você olhar para a série e começar a fazer paralelos, a gente não está falando do parque, nem do Velho Oeste, não é nada disso. Estamos falando do que estamos vivendo hoje em dia.

    Em que sentido? Em relação à tecnologia, à máquina. O homem, a violência. Acho que Westworld sempre explorou a predisposição que o humano tem para a violência. Ninguém está levantando bandeiras sobre violência ou armas, mas a gente está expondo e especialmente questionando. Quando se está num ambiente sem limites, sem julgamento, o que você coloca para fora? Os lugares mais obscuros que todo ser humano tem e com os quais a gente não lida.

    Iria a um parque desses? Eu iria. O código é interessante. Você pode fazer o que quiser, não é preciso ser politicamente correto, não há papel social a ser desempenhado. Isso é interessante para mim. Você pode fazer o que quiser, não vai ser julgado. E isso pode ser tudo, não necessariamente matar pessoas. Ser completamente livre tem consequências.

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    Você se questionou pessoalmente se faria alguma daquelas barbaridades? Sem a menor dúvida. Nesse sentido, a série é muito provocadora para nós, artistas, que participamos dela. Porque não tem como a gente não se envolver, não se colocar nesse lugar e não pensar nessas questões. Não relativizar tudo. Não refletir sobre essas questões. Passei a primeira temporada inteira questionando. Inclusive foi transformador nesse sentido. Me fez pensar em uma série de questões mais profundas às quais eu não prestava tanta atenção. Sempre me fascinou a relação do homem com a máquina. Quando as redes sociais começaram, eu fui muito resistente. Hoje em dia, eu tenho Instagram. Sempre falei: uma hora eu vou encontrar uma forma de lidar com isso, entendo a necessidade para o trabalho que eu faço. E foi 98% por causa do trabalho.

    Qual a sua relação com as redes sociais hoje? Curto, mas tenho uma relação de bastante atenção, de controlar quanto tempo fico ali. Sempre fui fascinado com a relação do homem com a própria criação, o Frankenstein. Eu acho isso genial. E quem está no controle hoje em dia? As pessoas trombam em postes, esbarram umas nas outras porque estão olhando para baixo. Nem na rua andam olhando para a frente. A coisa cresceu e tomou conta de um jeito que a minha pergunta é: quem está no controle?

    Rodrigo Santoro na série Westworld
    Rodrigo Santoro como Hector Escaton, em cena da série Westworld (HBO/Divulgação)

    Agora que tem uma filha, está especialmente preocupado com isso? Ela ainda é um bebê, então ainda não comecei a pensar. Mas é uma coisa que está mudando tanto… Eu tenho um sobrinho adolescente e uma sobrinha com 8. Estou vendo. Acho importante o equilíbrio. É ter hora para as coisas. É não exagerar. Se você souber se relacionar, não é para ser ruim. Tem um lado maravilhoso. A gente tem muitas facilidades hoje.

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    Por exemplo? Hoje eu estou aqui em Los Angeles, minha mulher está na Espanha com minha filha e me mandou um vídeo que fez dela de manhã. Acordei com isso. Então, de certa forma, mesmo que seja virtualmente, me aproxima um pouco. Você está num país que não conhece, liga o GPS e anda. Tem coisas incríveis. Claro que é para usar, que é superpositivo, que é crescimento, evolução. Mas, como tudo, é importante a gente conseguir se relacionar de forma saudável. É dessa forma que pretendo colocar isso para minha filha ou para os meus filhos. Ao mesmo tempo, tudo está mudando muito rápido. Não sei o que vai ser daqui a quatro anos, quando ela entrar na escola. Não sei se na escola vão ser só computadores. Sei lá. Estou alerta. Estudo, leio bastante sobre isso, converso com meus amigos. Estou sempre tentando me posicionar sem radicalismo, mas ao mesmo tempo vendo o que eu acho mais interessante. É o caminho do meio.

    Não tem medo de inteligência artificial? A gente fica olhando para o futuro, mas para mim já aconteceu. Já estamos discutindo quem tem controle, com algoritmos. O que aterroriza é que não temos plena consciência do que está acontecendo agora.

    Mas os jovens acham que controlam tudo. Que eles dão a informação que querem para o Facebook, mas não o que não querem. Porque os jovens acham que têm superpoderes. Eles sabem mais do que nós porque estão crescendo com isso. Não acho que temos controle de nada. Nós achamos que sim, mas não é verdade.

    Seu personagem é totalmente niilista, acha que nada tem sentido, todo o mundo vai morrer. Isso muda na segunda? Mudar, não, porque essa é um pouco a essência. É difícil porque a gente tem camadas. Este é o personagem, é a narrativa que foi designada. Ele está programado para ser esse cara. Na segunda temporada, ele começa a tomada de consciência. E agora é separar o que é dele, quem é ele. É uma crise existencial enorme. Na verdade, é isso para todos os anfitriões, que estão se entendendo e se relacionando com o mundo, porque agora tiveram o despertar. O que vou dizer é que essa característica se aprofunda.

    Tem mais cenas? É o tipo de coisa que vou deixar o público ver. Mas vai surpreender. Posso dizer que a participação do Hector é fundamental em toda a história durante toda a segunda temporada. Agora ele está na linha principal, no vetor que move a segunda temporada.

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