Robert Plant: “Não me importo se rap ou pop tomaram lugar do rock”
Aos 72 anos, o músico lança uma coletânea e conta a VEJA por que prefere viver do presente, e não de seu passado glorioso como cantor do Led Zeppelin
Ao final de uma histórica reunião do Led Zeppelin, em 2007, o cantor Robert Plant ouviu a reação entusiasmada de um convidado especial da lendária banda. Jason Bonham — que naquela ocasião substituiu na bateria o pai, John Bonham, morto em 1980 — virou-se para ele e disse: “Não vejo a hora da próxima apresentação”. Plant respondeu que a noite tinha sido maravilhosa, mas que o Led Zeppelin era composto por ele, Jimmy Page, John Paul Jones e o pai de Jason. Ponto final. Caso voltassem a excursionar, os três remanescentes certamente embolsariam milhares de dólares e lotariam estádios. Mas aquele único show para 20 000 pessoas, em Londres, não foi motivado por dinheiro: tratava-se de uma justa homenagem a Ahmet Ertegun, um dos fundadores da Atlantic Records e responsável por apostar na banda no início da carreira.
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Nos doze anos de existência do Led Zeppelin, o inglês Plant encarnou como ninguém um gênero musical que fez (e faz) a cabeça de gerações. Com a voz potente, os gritos agudos e seus inconfundíveis cachos loiros, ele se tornou o “Deus Dourado do Rock” à frente de uma banda que vendeu 300 milhões de discos. Mas, em vez de viver da nostalgia, o cantor engatou uma frutífera carreira-solo, que celebra agora na coletânea Digging Deep: Subterranea (Warner), composta de trinta faixas (enquanto isso, o guitarrista Jimmy Page, seu grande ex-parceiro de Zeppelin, até hoje não se livrou da sombra do grupo). Aos 72 anos, Plant é um exemplo de como um roqueiro pode amadurecer sem perder sua força musical. “Continuar trabalhando e cantando para mim não tem a ver com a idade”, disse o artista por telefone a VEJA (confira a entrevista completa).
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Quando o Led Zeppelin se separou, em 1980, Plant tinha 32 anos. Aos poucos, começou a se distanciar da mistura de blues e de rock pesado da antiga banda para abraçar diferentes ritmos musicais. Nos quarenta anos seguintes, ele lançou onze discos-solo, explorando sons que iam do Deserto do Saara até o País de Gales. “A música não tem fronteiras”, diz Plant. É verdade também que nada do que fez nos últimos tempos obteve uma ínfima parte do sucesso do Led Zeppelin. Mas o saldo artístico é bastante digno e positivo.
Viver da nostalgia, portanto, nunca fez parte de suas metas. Em 2015, os brasileiros puderam tirar a prova disso. Naquele ano, ele foi a principal atração do Lollapalooza, em São Paulo. Até tocou algumas músicas do Zeppelin, mas introduzindo elementos orientais e tambores africanos nos arranjos originais. Suas experimentações sonoras lhe deram também uma visão menos romântica do rock. Para ele, o ritmo pode (e deve) se misturar com outros elementos. “Cada geração quer ser associada às suas próprias invenções. Não me importo se o pop ou o hip-hop tomaram ou não o lugar do rock. Nada vai morrer.”
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Plant está ciente de que não perdeu a força de arrastar multidões. Por isso mesmo, não se enxerga como um cantor ou compositor, e sim como um artista. “Meu lugar sempre foi na frente do palco. Preciso estar pronto para aguentar um show, mesmo se minha voz estiver ruim em uma noite ou outra”, afirma. Ao ser questionado a respeito da música que mais se orgulha de cantar, ele não cita nenhuma do Led Zeppelin: aponta uma faixa da carreira-solo, com versos em galês: “Neste momento da minha vida, como um cara mais velho, Embrace Another Fall reúne o humor e a letra ideais”. Para o hoje grisalho Deus Dourado do Rock, o presente será sempre mais radiante que o passado.
Publicado em VEJA de 21 de outubro de 2020, edição nº 2709
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