Sua carreira de ator é intrinsecamente ligada ao espiritismo. Considera uma missão divulgar a doutrina? Eu sempre quis casar minha profissão com meu lado social e espiritual. Estudei para ser ator, mas tive dúvidas. Um dia desabafei com o Chico Xavier. Disse que eu deveria largar tudo e ser médico ou advogado. Que estava perdendo oportunidades. Ele respondeu: “Por acaso você recebeu chamado para essas profissões?”. Eu disse não, e ele rebateu: “Então que oportunidade é essa que acha que está perdendo?”. Depois, ele me disse que eu iria subir a lugares altos. E foi o que aconteceu.
Como é interpretar o famoso médium no teatro? Eu tinha esse desejo de contar a vida dele, de um homem tão amoroso e respeitável, que foi (e ainda é) um grande amigo. Eu me preparo muito antes de entrar em cena, faço ioga no palco, me concentro para me conectar a ele e peço que esteja ali comigo — e esse pedido vem dando certo: várias pessoas já me disseram que o viram me observando no palco.
Em 2010, Nosso Lar levou mais de 4 milhões de pessoas aos cinemas. Como foi retornar ao set para o segundo filme? É um filme que, de lá para cá, já alcançou 50 milhões de espectadores em DVD e streaming. Sinto que cheguei ao set com a carga desse sucesso. Era muito observado e respeitado pelos colegas, enquanto admirava o trabalho deles, como do Edson Celulari, que fez uma atuação linda. Então perdi peso e retomei o bigode do André Luiz. É uma história que deve render um terceiro filme e até uma série no futuro, vamos ver. O cinema espírita veio para ficar.
Por que o brasileiro gosta tanto de histórias espíritas? É uma doutrina que traz respostas apaziguadoras para perguntas como “de onde eu vim?”, “o que estou fazendo aqui?” e “para onde vou?”. E o sincretismo religioso faz com que o brasileiro seja atraído.
O Brasil hoje é um país mais evangélico do que era em 2010. Acha que isso pode diminuir o interesse pelo filme? Na verdade, somos uma maioria silenciosa, se somarmos os espíritas com nossos irmãos candomblecistas, umbandistas, espiritualistas e budistas, por exemplo. Tem também os católicos que adoram bater um tambor no terreiro, né? A diferença é que a gente não fica gritando o nome do Senhor — preferimos focar a prática do Evangelho.
Publicado em VEJA de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874