Vencedor do Oscar de melhor ator em 2019, por interpretar Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody, o americano de origem egípcia Rami Malek agora volta ao cinema com outro papel forte: o do vilão que atazana a vida de James Bond em 007 – Sem Tempo para Morrer – que estreia nos cinemas brasileiras nesta quinta-feira, 30. Quase tão marcantes quanto o próprio 007, os vilões da franquia costumam ser opositores à altura do herói. A longa lista de atores que encarnaram o antagonista do agente secreto conta com nomes como Gert Fröbe, Christopher Lee, Sean Bean, Christoph Waltz, Mads Mikkelsen e Javier Bardem — grupo seleto no qual Malek acaba de entrar.
Malek recebeu a reportagem de VEJA em Nova York para falar sobre o filme, sem spoilers. Confira abaixo a entrevista:
Seu personagem, Lyutsifer Safin, tem momentos misericordiosos apesar da maldade. Como foi encontrar esse tom? Aos olhos dele, ele não é mau. É um homem que sofreu e encontra na dor justificativas para suas ações.
É comum atores falarem que precisam se conectar com a verdade daquele personagem, mesmo que seja um vilão. É o caso aqui? É algo que tento alcançar. Para interpretar um personagem, você tem de entrar naquela visão de mundo particular. É meu trabalho entrar na mente dele, entender a filosofia que ele segue. Por que ele é tão comprometido com aquela missão? Quanto melhor eu entendo o personagem, mais intensa fica não só minha atuação, mas também a relação entre ele e James Bond.
Seu personagem tem marcas por todo o rosto. Como foi o processo para essa caracterização? Os maquiadores do filme foram sensacionais. Mas o processo é cansativo. Eram duas horas e meia por dia para ficar pronto. Eu tinha acabado de fazer Bohemian Rhapsody, no qual eu também levava duas horas diárias na maquiagem. É exaustivo, mas a caracterização é importante para a trama. No caso desse filme, era mais complexo, pois eles faziam uma pintura no meu rosto com pincéis finíssimos, e eu não podia me mexer. Foi um exercício de paciência.
Os vilões de James Bond são antológicos. Como é fazer parte deste cânone? Extraordinário. James Bond é uma franquia enorme, popular no mundo inteiro. Aposto que no Brasil também, certo? Ele ultrapassa gerações e fronteiras. Fazer parte de uma história tão rica do cinema é tremendamente especial.
Você tem um vilão favorito? Difícil escolher um só. Mas adoro o trabalho feito pelo Javier (Bardem), como Silva em 007 – Operação Skyfall. Ele assumiu alguns riscos ali, foi ousado. Poderia ter ficado caricato, mas não ficou. Eu o admiro.
Quando você foi escolhido para o papel, disse publicamente que ficou preocupado que fosse um terrorista, por sua origem árabe. Como foi essa conversa com os roteiristas? Foi só uma conversa amigável. O diretor Cary Joji Fukunaga me garantiu que não seria o caso, que não faria um terrorista. Fiz isso porque, ao interpretar um vilão, existem dois temores: o primeiro, de que alguém veja as ações e queira fazer a mesma coisa; o segundo, de que o ódio destinado ao personagem se reflita na vida real, contra pessoas daquela etnia ou religião. Então essa era uma preocupação que eu tinha, já que fazemos testes e fechamos contrato antes de ler o roteiro.
É como um encontro às escuras. Sim, um encontro às escuras com o James Bond. Quem não iria?