Tarsila precisa ser redescoberta? Sim. Na Paris dos anos 1920, ela foi uma mulher de vanguarda. Era amiga de Pablo Picasso, teve aulas com o pintor Fernand Léger, era próxima do escultor Constantin Brâncusi. Era sensível, arrojada, culta e linda. Servia comida brasileira aos franceses. Era uma forma de firmar sua brasilidade. E quando ela chegava aos lugares, todos olhavam em sua direção. Gostava de colocar o cabelo para trás e passar um belo batom vermelho nos lábios. Ela não participou da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, porque estava na França. Mas se envolveu por meio da troca de cartas com a pintora Anita Malfatti, de quem era amiga muito próxima, e ao voltar, ingressou no grupo dos Cinco, formado por Anita, Tarsila e os escritores Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade.
Quais os projetos envolvendo a obra de Tarsila? Estamos articulando uma exposição no Centro Pompidou, em Paris, e outra na Tate Modern, em Londres. Há um longa-metragem biográfico que terá produção-executiva de Simon Egan, o mesmo de O Discurso do Rei, de 2011, com roteiro da Daniela Thomas. Tenho a expectativa de que Tarsila seja interpretada por uma atriz como Angelina Jolie ou Marion Cotillard. E estamos negociando o lançamento de Tarsilinha, animação para o streaming inspirada em suas obras. Quero que Tarsila se popularize, como aconteceu com Frida Kahlo, e se transforme em um ícone pop no Brasil e no mundo.
A senhora está no centro de toda a movimentação em torno de Tarsila. Como era sua relação com ela? Tarsila era irmã do meu avô, Milton Estanislau do Amaral. Meu pai, Guilherme Augusto do Amaral, foi advogado dela e o sobrinho querido, com quem teve muita proximidade. Ela sofreu rejeição na família por ser pintora, casar-se quatro vezes (André Teixeira Pinto, Oswald de Andrade, Osório César, Luís Martins) e viver na Paris dos anos loucos. Mas meu avô e minha avó sempre estiveram ao lado dela. No fim da vida, eram meus pais que a levavam em todos os lugares.
O que ela achava de vocês terem o mesmo nome? Ela havia perdido a filha, Dulce, e meus pais decidiram homenageá-la. Ela se emocionou. Para mim foi um privilégio conviver com Tarsila. Andava por seu apartamento, em São Paulo, vendo quadros hoje expostos em museus e coleções relevantes.
Publicado em VEJA de 19 de janeiro de 2022, edição nº 2772