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Quem foi Leonora Carrington, que bateu recorde de R$ 145 milhões em leilão

Artista inglesa se naturalizou mexicana após fugir da Europa na Segunda Guerra e se tornou ícone do surrealismo junto a Frida Kahlo e Max Ernst

Por Thiago Gelli 16 Maio 2024, 17h27

Na última quarta-feira, 15 de maio, o espólio da pintora Leonora Carrington (1917-2011) atingiu um novo valor recorde com a venda de uma das telas da britânica naturalizada mexicana. As Distrações de Dagoberto, de 1945, foi comprada por 28,4 milhões de dólares (cerca de 145,5 milhões de reais) na casa de leilões Sotheby’s, em Nova York, e alçou a artista à lista de nomes mais bem-sucedidos das artes plásticas. Surrealista, o quadro bebe da fonte de Hieronymus Bosch (1490-1516), de O Jardim das Delícias Terrenas, e representa múltiplas criaturas em situações lúdicas, unidas por planos que se cruzam. O feito, porém, pode surpreender os menos familiarizados com Carrington, que representou tanto sua imaginação fértil quanto suas próprias experiências em seu trabalho psicodélico.

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Nascida na Inglaterra rural, a artista teve berço de ouro, frequentou academias de etiqueta e estava fadada a se tornar uma madame de seu tempo, não fosse sua rebeldia nata. Abastecida de lendas celtas pela avó contadora de histórias, Carrington cresceu pensando em fadas, bruxas, deusas e druidas e jamais se conformou com as exigências sociais, expulsa de múltiplas instituições de ensino. Desenhou ao longo de toda a infância e adolescência e, aos 19 anos, pôde viajar a Londres para estudar técnicas de pintura a fundo. Lá, conheceu o movimento surrealista por meio de sua primeira mostra. Encontrou Max Ernst (1891-1976), alemão pioneiro da estética, e com ele viveu um intenso romance, eternizado em Retrato de Max Ernst. No ano seguinte, partiu para a França determinada a seguir carreira artística e foi deserdada pela família ao assumir o relacionamento sem intenções de matrimônio.

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Provocativa, ela oficializava aí sua aversão aos preceitos burgueses e à moralidade inglesa. Abandonou a riqueza e se juntou ao grupo de surrealistas, com os quais aperfeiçoou sua arte e também se tornou musa. Com o estouro da Segunda Guerra Mundial, entretanto, a jovem teve que se separar do amado — preso na França por ser um imigrante alemão — e fugiu para a Espanha. Acometida por alucinações e delírios, ela foi internada em um hospital psiquiátrico, onde transpôs para as telas suas visões mais desconcertantes, vide As Distrações de Dagoberto. A obra vendida é reflexo das aspirações proféticas da artista, que tecia paralelos entre a própria jornada e a de Joana D’Arc e valorizava a insanidade como combustível artístico.

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Mesmo assim, ela se curou da enfermidade e, em 1941, casou com um embaixador mexicano. Dois anos depois, se mudou para a nação latino-americana e entrou em contato com os muralistas de lá e artistas como Frida Kahlo, com os quais se encaixou sem problemas. O mercado favorável a artistas transgressoras, então, lhe trouxe o reconhecimento merecido. Continuou morando no país até sua morte em 2011, período em que nunca deixou de pintar ou de viajar o mundo com suas obras.

Dentre sua extensa obra, As Distrações de Dagoberto se destaca por ter sido pintada com têmpera de ovo, técnica de pintura popular na Idade Média, diferenciada pela secagem rápida e textura. O quadro é dividido em quatro setores — terra, fogo, ar e água — e representa a imaginação de Dagoberto, retratado em um roupão vermelho, sendo carregado em uma espécie de carruagem movida por um garoto. No fogo, uma criatura de ponta cabeça é consumida por chamas laranjas e ressurge como cabeças de cavalo, figura corriqueira no trabalho da artista. Nos demais cantos da pintura, ilhas flutuam sobre o céu, duas mulheres interagem com uma criatura mecânica e uma figura gigante toca uma flauta triangular enquanto coleta bolhas com os pés. O conjunto caótico seria uma imagem aterrorizante no trabalho de Bosch, que pintava para fiéis católicos, mas para Carrington é exemplo do prazer anárquico e das belezas naturais.

Atualmente, obras da artista podem ser encontradas em alguns dos mais importantes museus do mundo, como o Metropolitan, o Moma e o Tate. Adquirido por Eduardo F Costantini, presidente do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, As Distrações de Dagoberto deve se tornar parte do acervo da instituição argentina.

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