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Protagonistas surdos, enfim, conquistam prestígio em Hollywood

Aclamado no Festival de Sundance, 'No Ritmo do Coração' segue o sucesso dos ótimos 'O Som do Silêncio' e 'Um Lugar Silencioso'

Por Marcelo Canquerino Atualizado em 11 out 2021, 17h13 - Publicado em 11 out 2021, 11h58

Desde a edição de 2021 do Oscar, que teve entre seus indicados o belíssimo filme O Som do Silêncio, algumas produções vêm chamando a atenção por trazer, de forma respeitosa e livre de estereótipos, protagonistas surdos aos holofotes. No Ritmo do Coração, lançado no Brasil no final de setembro, é um exemplar dessa onda. A história acompanha a trajetória de Ruby (Emilia Jones), uma jovem que ama cantar, mas enfrenta uma barreira delicada para seguir este sonho: seus pais, vividos por Marlee Matlin e Troy Kotsur, e seu irmão mais velho, todos deficientes auditivos, são extremamente dependentes dela, a única na família que não é surda. 

A ideia inicial de alguns financiadores para o longa, um remake do francês A Família Bélier, era dar a nomes famosos de Hollywood papéis de deficientes auditivos na produção. Isso só não aconteceu graças a insistência da atriz Marlee Matlin, surda desde os 18 meses de idade, que bateu o pé e disse que só participaria do filme se estes personagens fossem interpretados por atores e atrizes surdos na vida real. “Não consigo ver nenhum ator vestindo uma fantasia de surdo. Não somos mais fantasias para vestir. Estamos aqui e nossos talentos são válidos”, disse a atriz em entrevista ao USA Today

Segundo uma pesquisa feita em 2019 pela Ruderman Family Foundation, instituição filantrópica privada que tem como um de seus objetivos promover a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho dos Estados Unidos, 55% dos participantes do estudo com 16 anos ou mais preferem retratos autênticos de atores e atrizes com deficiência nas telas. Apesar das recentes produções que contemplam a comunidade — e do número expressivo de consumidores mostrado no relatório —, Hollywood ainda parece ter dificuldade em inclui-la nas discussões sobre diversidade: grande parte dos estudos voltados para a produção audiovisual não lista pessoas com deficiência na indústria.

RIVAL APLICADA - O Som do Silêncio: a Amazon manda bem no Oscar -
Riz Ahmed em ‘O Som do Silêncio’ (Amazon Studios/.)

No Ritmo do Coração foi um dos grandes vencedores do Festival de Sundance deste ano, abocanhando os prêmios de direção, melhor ficção americana e o prêmio do júri. Seguindo a mesma linha de excelência, O Som do Silêncio, apesar de não ter vencido grandes categorias no Oscar, provou seu potencial ao apresentar para o público a história de Ruben Stone (Riz Ahmed),  baterista de uma banda de heavy metal que precisa lidar com a perda de audição e seus problemas com drogas. Ambos os filmes trabalham com dimensões que vão além de apenas representar pessoas surdas, tocando em assuntos diversos como família, aceitação e superação. 

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Cena do filme 'Um Lugar Silencioso', dirigido por Michael Bay
Emily Blunt e Millicent Simmonds no filme ‘Um Lugar Silencioso’ (Imdb/Divulgação)

Porém, um dos grandes trunfos desta produção atual é conduzir o espectador, através de uma exemplar edição de som, pela experiência sensorial de uma pessoa que percebe o mundo de outra forma. Em 2018, o filme Um Lugar Silencioso abriu as portas para esse modelo, ao criar uma realidade em que o silêncio deve imperar para que seus protagonistas sobrevivam a criaturas alienígenas que atacam movidos pelo barulho. O longa, que ganhou uma continuação em 2021, Um Lugar Silencioso – Parte II, traz no elenco a jovem atriz surda Millicent Simmonds, que interpreta a filha mais velha de John Krasinski e Emily Blunt. Ali, todos se comunicam pela língua de sinais — e Millicent brilha entre os veteranos. “É uma atriz poderosa, que carrega o filme nas costas”, disse Blunt em entrevista, elogiando a americana, hoje com 18 anos de idade.

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