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Prévia da bilheteria brasileira tem filme de Edir Macedo em 1º lugar

'Nada a Perder' estreou com 4 milhões de ingressos vendidos -- um recorde de pré-venda --, mas com salas praticamente vazias

Por Redação
Atualizado em 2 abr 2018, 11h20 - Publicado em 2 abr 2018, 11h05

Nada a Perder – Contra Tudo. Por Todos, a cinebiografia do bispo Edir Macedo, estreou na liderança de público, de acordo com prévia da ComScore, empresa especializada em bilheteria. O longa, dirigido por Alexandre Avancini, entrou em cartaz na quinta-feira, dia 29, em 669 cinemas e 1.108 telas, e deixou para trás outros estreantes, como Jogador Nº 1 e Pedro Coelho.

O resultado já era esperado e é controverso: o filme teve 4 milhões de ingressos adquiridos em pré-venda, um recorde no país. Por outro lado, havia salas praticamente vazias nas primeiras sessões do longa, baseado na autobiografia de mesmo nome de Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Rede Record, que lançou três volumes sobre a sua vida, dos quais vendeu mais de sete milhões de exemplares.

“Nada a Perder é sobre uma fraude — o julgamento viciado a que foi submetido o bispo. Ou pelo menos essa é a tese defendida pelo diretor. O filme começa justamente com a prisão de Edir Macedo. Uma perseguição nas ruas, ele é tirado de dentro do carro e algemado diante da mulher e da filha. Os policiais mais parecem bandidos, agem com truculência, uma arrogância que vai permanecer por todo o filme.

A prisão ocupa o começo e o fim. No miolo, o filme conta a história de Dedinho, o menino estigmatizado por uma má formação congênita nas mãos e que cresce revoltado — contra Deus. Mas ele não se revolta só pelo próprio problema. Sofre pela irmã, com sua dificuldade de respirar, sofre pelos pobres. Seu sonho é a evangelização, e para realizá-lo, Edir vai fundar a própria igreja. A Universal do Reino de Deus. Contra tudo, por todos.

E o roteiro chega ao xis da questão. Para aumentar sua força evangelizadora, Edir precisa de uma TV. Compra a Record e é alvo de uma investigação que o filme mostra como complô de políticos, empresários do ramo e representantes da Igreja Católica. O juiz é corrupto e faz parte do grupo que o acusa de falsidade ideológica e crimes contra a fé — charlatanismo. No limite, Edir é salvo pelo Plano Collor, que derruba as dívidas em dólar, e pelas orações do povo, que faz vigília diante da cadeia. Nada a Perder é sobre a força do povo, a força (interior) do homem íntegro.

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Naturalmente, essa exaltação do homem puro, do homem simples — Edir — toma ares de hagiografia. Em bom português, o filme é chapa-branca, mas a discussão jurídica que atravessa Nada a Perder (roubou? Não roubou?) não deixa de refletir, como um espelho, dúvidas que assolam o Brasil real. Ah, sim. Edir chega à Polícia Federal — no filme, os coletes dizem Civil — e chama a agente de “minha filha”. Ela reage — não é “filha”. Você já viu isso, com outros termos e personagens.

O diretor Alexandre Avancini, filho de Walter, já provocou polêmica com Os Dez Mandamentos, outro megassucesso de bilheteria — a maior do cinema brasileiro — não referendado pelo público. Os Dez Mandamentos era uma súmula da novela. Condensar uma novela inteira em duas horas, dar um mínimo de coerência à história e aos personagens não representa pouco. Desta vez, Avancini não trabalha sobre imagens já captadas. Ele filmou, e contou com bons atores — Petrônio Gontijo e Day Mesquita, que fazem Edir e a mulher, Ester.

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Avancini não quis dar entrevista, não mostrou o filme para a imprensa. Seria interessante discutir com ele o subtexto político de sua história. No final, a surpresa — aliás, duas. O filme termina em aberto, prometendo uma sequência. E o próprio bispo marca presença, convidando o público para orar na poltrona.

 

(Com informações do Estadão Conteúdo)

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