Representante da Escola de Nova York, Mark Rothko (1903-1970) foi um dos expoentes do expressionismo abstrato, corrente que dominou a cena artística nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Como Jackson Pollock e William de Kooning, outros dois nomes importantes da época, Rothko buscava com suas pinturas comunicar as diferentes dimensões da experiência humana — “emoções humanas básicas — tragédia, êxtase e assim por diante”, escreveu ele. Conhecido principalmente por suas telas de grandes dimensões, em geral preenchidas com retângulos coloridos e difusos, o artista também trabalhou sobre papel, com resultados semelhantes à sua produção principal. Essa dimensão de seu trabalho, pouco conhecida, vem sendo resgatada em exposições pelo mundo.
De novembro de 2023 até março passado, a Galeria Nacional de Arte de Washington, nos EUA, reuniu mais de 100 das pinturas em papel de Rothko, muitas delas expostas pela primeira vez. As obras cobrem desde os primeiros temas figurativos e surrealistas até formas retangulares de bordas suaves, muitas vezes realizados em escala monumental, pelos quais o pintor ficou conhecido. A partir desta quinta, 16, o Museu Nacional de Oslo, vai exibir na Noruega uma porção generosa da exposição americana. Sob curadoria de Øystein Ustvedt, a nova mostra, intitulada Mark Rothko. Paintings on Paper, traz cerca de 80 obras do pintor organizadas em torno dos quatro principais períodos de sua carreira nas quais pintar em papel foi crucial.
Rothko produziu em torno de mil pinturas em papel, ao todo. O recorte da exposição no Museu Nacional de Oslo reúne trabalhos figurativos dos anos 1930, experiências surrealistas de meados dos anos 1940 e pinturas abstratas do fim dos anos 1950 e do fim dos anos 1960. Ele imigrou da Rússia para os Estados Unidos em 1913, estabelecendo-se de início na Costa Oeste, em Portland. Em 1921, mudou-se com a família para a Costa Leste, e depois se fixou em Nova York. Para ganhar a vida, trabalhou como professor de educação artística no Brooklyn Jewish Center, onde encorajava as crianças a confiar em suas próprias ideias e a expressá-las. “Ele usava grandes rolos de papel comum para ensinar os seus alunos e, ao mesmo tempo, os usava para pintar”, explicou a VEJA Ustvedt.
É o período em que Rothko busca uma linguagem visual própria, mantendo o inconformismo modernista contra o academicismo. Nesse início, o artista cria paisagens, retratos e imagens de banhistas de forma figurativa, com cores intensas e pinceladas fortes. Após sofrer a influência surrealista, resultado da invasão dos vanguardistas europeus que fogem da Segunda Guerra Mundial, e enveredar pelas Multiformas, como são chamadas as pinturas do fim dos anos 1940, o artista chega à forma clássica que marcaria seu estilo até o fim da vida: os famosos retângulos suaves com bordas difusas pintados em cores brilhantes dispostos horizontalmente em um fundo monocromático.
A exposição em Oslo traz ainda um elemento didático sobre o processo de criação de Rothko. Uma das divisões abriga um dos cavaletes de grandes dimensões em que o pintor trabalhou, fosse nas telas ou em papel. “Muitas vezes, ele trabalhava em mais de uma pintura ao mesmo tempo, pendurando vários retângulos de papel, um ao lado do outro”, explicou o curador da exposição. As telas, quatro ao todo, expostas junto ao suporte oferecem pistas sobre os métodos e materiais de Rothko – suas pinceladas e camadas, seus experimentos com enquadramento e montagem e seu tratamento das bordas. Várias apresentam vestígios de grampos ou têm bordas irregulares que teriam sido limpas para enquadramento ou montagem.
Nas últimas salas, intituladas Humores Sombrios e Em Direção à Luz, estão concentradas pinturas em papel do fim dos anos 1960, No primeiro grupo, estão 30 trabalhos com tons em marrom e cinza, e em menor escala em preto, azul escuro e púrpura. No último grupo, outra série do mesmo período, mas apontando para uma direção contrária: mais brilhantes, com bordas suaves e enevoadas, rodeadas por margens de papel desbotado. Expressão de emoções extremas, as pinturas do fim da vida apontam para um estado de espírito atormentado. Rothko suicidou-se em 25 de fevereiro de 1970, deixando como legado um corpo de obra que, como ele mesmo preconizou ao definir a arte, instigava o observador a mergulhar em uma aventura por um mundo desconhecido.