O tenor e regente espanhol Plácido Domingo deixou a produção da ópera Macbeth às vésperas de sua estreia — a noite de abertura estava marcada para esta quarta-feira, 25. A demissão aparentemente voluntária é, na verdade, um reflexo da pressão que o Metropolitan Opera, que sediaria o espetáculo, tem sofrido desde que o maestro foi acusado de assédio sexual no início de agosto.
Em comunicado publicado pelo The New York Times, Domingo relembra que estreou nos palcos da companhia aos 27 anos e que a apresentação em meio a acusações poderia atrapalhar a produção. “Acredito que minha aparição em Macbeth tiraria a atenção do trabalho duro de toda a equipe e dos meus colegas de palco e de bastidores. Por isso, pedi meu afastamento”, diz no texto. Em seguida, ele afirma que não retornará à tradicional casa de ópera. “Estou feliz que, aos 78 anos, eu pude vestir o figurino do personagem nos ensaios, o que considero minha última performance no palco do Met.”
Seguindo a abertura dada pelo movimento Me Too, canal para que vítimas de abusos no passado pudessem contar sua história, oito cantoras e uma dançarina vieram a público fazer denúncias de assédio sexual contra o astro do canto lírico. Os avanços teriam começado na década de 1980. O tenor demonstrava encantamento por artistas iniciantes e as convidava para visitas a seu quarto de hotel. As que resistiam eram ameaçadas de demissão e boicote. Outros relatos somaram-se dede então.
Além de sua saída de Macbeth, Domingo teve récitas canceladas na Orquestra da Filadélfia e na Ópera de São Francisco. A Ópera de Los Angeles, da qual ele é diretor artístico, e a Ópera de Washington, que dirigia na época dos abusos iniciais, prometeram uma apuração rigorosa das acusações.