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Para Milo Manara, quadrinhos permitem excitação sem limites – e sem chocar

Artista italiano é a grande atração em evento no Rio. “Estou convicto de que fala-se muito melhor de erotismo e sensualidade de uma forma abstrata", defende

Por Rafael Lemos, do Rio de Janeiro
10 nov 2010, 15h55

“Se falarmos de sadismo no cinema ou fotografia, teremos imagens fortes, com corpos sujos de sangue. Não teremos um ato mental, mas um ato físico. E o sadismo é um ato que diz respeito a outra dimensão. Creio que o desenho leva vantagem porque conta tudo o que tem que ser contado, enfatizando o aspecto mental em vez do físico”

Na era da internet, quando nudez, erotismo, pornografia e o que mais se possa imaginar em matéria de entretenimento adulto estão ao alcance de um clique, a profusão de conteúdo é tamanha que pode ser difícil reconhecer os limites entre arte, diversão e atividades criminosas. A avalanche digital, no entanto, não teve força nem criou alternativas para substituir o talento. E talvez a maior prova disso sejam as histórias imaginadas pelo quadrinista italiano Milo Manara e executadas com rara perfeição em papel. Manara, 65 anos, conquistou dinheiro, fama e prestígio com seu traço capaz de reproduzir em detalhes as curvas femininas. Ele é o convidado de honra da Rio Comicon 2010, evento que tenta recolocar a cidade no circuito internacional do mercado de histórias em quadrinhos.

Erótica sem ceder à tentação da vulgaridade, a obra de Manara recorre a cenários e tramas envolventes para provocar a libido dos leitores. Para ele, aliás, essa a grande vantagem que os quadrinhos têm em relação a formas de arte mais modernas como o cinema e a fotografia. O quadrinista, entre algumas baforadas de charuto antes de assistir à palestra de abertura do evento, do humorista Ziraldo, defendeu, em entrevista ao site de VEJA, a imaginação como a forma mais ousada de excitação.

“Estou convicto de que fala-se muito melhor de erotismo e sensualidade quando se fala de forma abstrata, em comparação com o cinema ou a fotografia. O órgão mais sexual mais importante que temos no nosso corpo é a cabeça. É a fantasia. Tudo começa na cabeça e num âmbito astral, não concreto”, argumenta o artista.

E no plano das ideias não há limites. Vale tudo. Manara não se furta a explorar temas como bondage – fetiche que consiste em amarrar e imobilizar o parceiro – , dominação, sadismo e sadomasoquismo – práticas que, juntas, enquadram-se no que os adeptos chama de BDSM. Ao contrário das imagens reais, como explica o ‘papa’ dos quadrinhos eróticos, os desenhos atenuam o aspecto violento ou condenável dessas modalidades, e explora os conceitos – seja de dominação ou entrega – que fazem a cabeça de tantas pessoas. Ou, como simplifica Manara, “os desenhos excitam mais porque chocam menos”.

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“Se falarmos de sadismo no cinema ou fotografia, teremos imagens fortes, com corpos sujos de sangue. Não teremos um ato mental, mas um ato físico. E o sadismo é um ato que diz respeito a outra dimensão. Creio que o desenho leva vantagem porque conta tudo o que tem que ser contado, enfatizando o aspecto mental em vez do físico”, compara o italiano.

Manara situa seus trabalhos numa categoria anterior à erótica, a de histórias em quadrinhos para adultos. A escolha do sexo como especialidade veio da empolgação dos tempos de juventude. “Comecei a fazer um trabalho para adultos porque percebi que falar para crianças não era o meu caminho. E deu certo. Optei pelo erótico porque me parece que esta é uma parte muito importante da vida. Principalmente quando se tem 20 anos – a idade com a qual comecei a desenhar”, conta.

O quadrinista italiano se diz um admirador dos artistas brasileiros, mas chama a atenção para a necessidade de se apostar na formação de um mercado adulto de quadrinhos no país – tradicionalmente focado nas crianças. “Não domino tanto o mercado brasileiro, mas sei que a Argentina tem uma cena forte. Nos anos 70, muitos artistas argentinos foram para a Europa durante a ditadura e criaram sua própria escola. Acredito que no Brasil é preciso criar um direcionamento para a produção adulta – que não é necessariamente erótica. Os desenhistas brasileiros são fortíssimos, de muita qualidade. Mas é preciso investir mais nas histórias para adultos. Também é preciso ter paciência para divulgar e formar um público para esse segmento. Qualidade, vocês já têm”, avalia.

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