Os bastidores do polêmico documentário sobre Sean ‘Diddy’ Combs na Netflix
Diretora falou a VEJA sobre captação de imagens do rapper, a influência de 50 Cent e o processo por trás da produção que irritou o músico condenado
A Netflix lançou nesta terça-feira, 2, a série documental Sean Combs: O Acerto de Contas, que se debruça sobre as acusações e a vida do rapper rebatizado como P. Diddy. Produzida por 50 Cent — desafeto público de Diddy — e dirigido pela cineasta Alex Stapleton, a produção não foi bem recebida pelo cantor, que cumpre pena por crimes relacionados ao transporte de pessoas para fins de prostituição, com uma sentença de 4 anos e 2 meses de prisão. Ele foi condenado em outubro, após ser considerado culpado em duas de cinco acusações, que também incluíam extorsão e tráfico sexual, das quais foi absolvido.
Em nota à imprensa, um porta-voz de Diddy classificou a produção da Netflix como “uma vergonhosa peça difamatória” e acusou o streaming de utilizar “imagens roubadas”. A plataforma, por sua vez, atestou que as alegações são falsas e que projeto não tem ligação com conversas anteriores entre Combs e o streaming. Em entrevista a VEJA, a diretora Alex Stapleton afirmou que as imagens privadas em que Diddy discute o caso ao telefone com o seu advogado dias antes da prisão foram obtidas legalmente, revelando também qual foi o tamanho da influência de 50 Cent e os bastidores da produção. Confira a entrevista a seguir:
Como surgiu a ideia de fazer este documentário? surgiu no dia em que Cassie Ventura [ex de Combs] desistiu do processo. Eu fiquei chocada, assim como o resto do mundo que leu todos aqueles detalhes. Quando ela fez o acordo, em 24 horas, parecia que a porta para aquilo havia simplesmente se fechado. E acho que todos pensamos: ‘Espere aí. Uma bomba gigante explodiu’. Parecia que havia muito mais por trás da história. Naquela época, eu já estava trabalhando com o 50 Cent em outros projetos. Então, tivemos uma conversa sobre como seria se uníssemos forças para fazer esse filme. Concordamos que seria muito complicado e complexo, e que não seria um filme fácil de fazer, e então começamos a produção.
O documentário tem imagens de Sean Combs feitas dias antes da prisão, por um cinegrafista contratado por ele. Como essas imagens chegaram até vocês? Eu não estava lá quando as imagens foram filmadas, então não sei de tudo. O que eu posso te dizer é que as imagens foram obtidas de forma completamente legal e transparente, e é por isso que optamos por usá-las na produção.
Por que acha que ele queria que alguém o filmasse? Sean é a única pessoa que pode realmente responder a essa pergunta. Foi uma escolha interessante ter alguém filmando esses momentos em tempo real. Pelo o que pude ver em entrevistas e materiais de arquivo, ele sempre se filmava. Acho que isso tem muito a ver com a cultura do hip-hop. Muitos rappers têm cinegrafistas os seguindo durante todos esses momentos loucos de suas vidas. Mas eu não sei qual era o objetivo final. Não sei se era para ele lançar o que ele provavelmente consideraria uma obra-prima sobre a própria vida. Mas acho que era muito importante para Sean Combs documentar tudo o que ele estava passando.
Antes de tudo vir à tona, as pessoas tinham muito medo de falar sobre o caso. Teve dificuldades de conseguir entrevistas? Sim, foi um desafio. Acho que isso também fez parte do trabalho com o 50 Cent. Começamos tudo antes mesmo de Combs ser indiciado, antes de qualquer sinal de que isso se tornaria uma situação criminal. Trabalhar com ele permitiu que as pessoas se sentissem confortáveis para compartilhar suas histórias, porque elas sentiram que era um projeto legítimo. Havia muita confusão naquela época, e as pessoas estavam muito paranoicas sobre com quem falavam e onde as informações iam parar. Para mim, como cineasta, era importante permitir que as pessoas viessem, sentassem e compartilhassem a sua verdade. O filme não se limita às vozes das pessoas que têm acusações contra Sean. Também inclui pessoas com experiências diferentes, ou que eu simplesmente queria que participassem do processo narrativo para entender o contexto da carreira dele em determinados momentos.
Você dirigiu o filme enquanto o processo acontecia. Como foi lidar com as mudanças? Não foi a tarefa mais fácil. Tive muita sorte de trabalhar com a Netflix porque todos nós decidimos que não havia nenhuma exigência de que o filme fosse lançado em determinada data. Todos concordamos que estávamos ali para servir à história e, depois das acusações, sentimos que deveríamos esperar o julgamento acontecer, chegar a um veredicto e saber como esse capítulo se encerraria. Mas não entramos em todos os detalhes do julgamento. Havia muito trabalho sendo feito na história de fundo, de como era Sean Combs, seu ecossistema e seu mundo nos anos 90 e 2000.
O caso de Sean Combs foi esmiuçado de maneira constante. O que o documentário acrescenta à discussão? Adiciona contexto. Isso é importante, porque não há um lugar onde você possa ir e entender os relacionamentos e quem essas pessoas eram dentro da história. Dedicar um tempo para entender quem é Sean Combs e mais sobre a personalidade dele também foi importante para mim. Muita gente se baseou apenas em manchetes isoladas e não fez o trabalho contextual mais amplo. Então, acho que o impacto é diferente. Não se trata de uma revelação bombástica atrás da outra. Acho que o público precisa tirar suas próprias conclusões. Também era importante para mim criar algo que nos fizesse questionar o que isso diz sobre nós como sociedade e a forma que lidamos com pessoas com poder e fama e, com sorte, evitar que esses comportamentos se repitam.
Houve alguma tentativa por parte da defesa de Sean Combs de barrar o documentário? Não houve. Eu pedi por diversas vezes para entrevistá-lo. Acho que isso teria sido uma ferramenta valiosa para o filme. Mas nós nunca tivemos uma resposta por parte da equipe dele.
Você mencionou o 50 Cent, que é produtor do documentário. Qual foi a influência dele no projeto e o que acha das críticas por conta da relação conflituosa entre ele e Sean Combs? O histórico dele e o que acontece nas redes sociais não têm nada a ver com a forma com que eu busquei produzir a série. O 50 Cent teve acesso a prévias e nós conversávamos sobre elas. Quando ele dava uma sugestão, eu avaliava se era válida ou não, mas ele não participou da decisão final sobre o que entraria ou seria cortado. Ele queria que fosse algo independente, mesmo com o nome dele como produtor executivo. Acho que quando as pessoas assistirem, talvez se surpreendam com algumas coisas que não abordamos ou que abordamos,. Até porque, isso é um documentário, não é uma guerra nas redes sociais.
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