José Barbosa da Silva, o Sinhô, estava certo de que acabara de escrever o melhor samba de sua vida. “Teremos muito dinheiro”, disse ele à mulher, Nair, depois de passar a noite inteira trabalhando na composição. Naquele ano de 1930, Sinhô já era considerado um nome maior do samba. Mas ele precisava de um novo estouro: embora houvesse arrebentado a boca do balão com Jura, Sinhô, boêmio e perdulário, vivia endividado. Tanta pressa ele tinha em registrar o samba, ao qual deu o título de O Homem da Injeção, que saiu correndo para pegar a balsa que o transportaria da Ilha do Governador, onde morava, para o centro do Rio. Tuberculoso, Sinhô sofreu uma violenta hemoptise e morreu ali mesmo, na balsa. Acredita-se que O Homem da Injeção acabou enterrado no bolso do paletó do compositor. A morte tragicômica do autor de Quem São Eles e Gosto que Me Enrosco pode ser tida como um marco: era o fim de um período ainda embrionário do samba, gênero que então ainda abrangia maxixes, marchas e lundus, mas estava em transição para um ritmo mais sincopado, próximo ao que escutamos hoje. A transformação gradual dos maxixes, dos choros e do samba de terreiro para os passos iniciais de sua profissionalização e aclamação como o primeiro ritmo popular brasileiro é contada de forma riquíssima, sem afetações acadêmicas, pelo escritor cearense Lira Neto — autor de excelentes biografias de Maysa, Castelo Branco e Getúlio Vargas — em As Origens, o volume que abre a planejada trilogia Uma História do Samba. Os três livros irão do século XIX até a construção do Sambódromo no Rio de Janeiro, em 1984.
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