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O renascimento das calças de cintura baixa

A volta da peça que deixa um palmo abaixo do umbigo à mostra desafia os quilos ganhos na quarentena. Há nela um quê de protesto adequado a novos tempos

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 set 2020, 10h39 - Publicado em 11 set 2020, 06h00

Nos anos 2000, as calças de cintura baixa vieram ao mundo com estardalhaço para destacar um ativo valiosíssimo entre as mulheres: a barriga chapada. A maior das musas era a cantora americana Britney Spears, que começava a se destacar, na antessala dos atuais tempos das redes sociais, e não vacilou um segundo em abandonar o visual adolescente com que começara sua carreira. Suas exibições públicas foram valorizadas com os jeans justíssimos e zíperes de poucos centímetros — e uma imensidão de abdômen à mostra. O tempo passou, o recato se impôs e tudo ficou mais discreto. Mas como a moda vive de redescobertas, uma das novidades, agora, é o retorno dos modelos de vinte anos atrás.

Fashionistas de primeira hora como as modelos americanas Bella Hadid e Hailey Bieber já aderiram ao estilo, assim como marcas de prestígio, entre as quais Gucci, Tom Ford e Versace. O renascimento embute algum paradoxo. O item ressurgiu em plena quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, período inglório, que parece estar chegando ao fim, no qual as mulheres (e homens também, é claro) ganharam quilinhos a mais. A modelagem que aperta as ancas, alertam os especialistas em moda, ressalta a gordura localizada no local, dando a aparência de duas cinturas. Ou seja, era costumeiramente usada por silhuetas secas. Hoje, portanto, não deveria emplacar.

Mas, como a dificuldade é a mãe da invenção, deu-se um jeito de fazer as calças mais larguinhas, em sua maioria, mesmo atreladas a corpos sem um pingo de gordura sobrando. “Hoje em dia conforto é fundamental para a moda vingar, ninguém mais acha aceitável sofrer para caber em uma tendência”, diz a consultora de moda e estilo Mônica Boaventura, dona de um badalado ateliê que leva seu nome em São Paulo. Há poucos anos, outro item do vestuário feminino passou por uma adaptação semelhante, a chamada blusa cropped, curtinha, com medidas que normalmente chegam, no máximo, à altura do umbigo. Feitas em variados manequins e usadas em sobreposições, se adaptaram a todos os corpos.

Como moda também é manifesto, a calça de cintura baixa, readaptada aos dias de confinamento, ganhou força por refletir, de algum modo, os humores deste 2020 tão especial. Não há espaço para machismo, as mulheres impõem suas vontades, exigem igualdade e não cansam de informar que seu corpo lhes pertence. Simples assim. Tratam de exibi-lo do jeito que bem desejam, grito que ecoa os ruidosos anos 1960, com o nascimento da revolução sexual. Naquele momento, a peça, em sua primeira versão, era chamada de Saint-Tropez, em referência ao sensual balneário francês frequentado pela sensualíssima Brigitte Bardot. “A cintura baixa surge num momento de libertação feminina, com um teor de contestação e rebeldia”, diz a historiadora de moda Laura Ferrazza. A quebra de paradigma na época foi tamanha que Carlos Drummond de Andrade escreveria uma crônica, espantado com os umbigos em evidência: “Se na praia eles nem são percebidos, porque se inserem no quadro global, na rua, no coletivo, na loja, no escritório, são uma presença nova, uma graça diferente acrescentada ao espetáculo feminino”. Já não há mais espanto, mas o espetáculo precisa continuar.

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Publicado em VEJA de 16 de setembro de 2020, edição nº 2704

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