No dia 23 de setembro de 1973, o poeta chileno Pablo Neruda, militante ativo do partido comunista, morreu em uma clínica em Santiago, aos 69 anos. Segundo a versão oficial, a causa da morte foi um câncer de próstata, mas investigações iniciadas em 2012 procuram esclarecer a hipótese de que ele, na verdade, teria sido envenenado a mando do ditador Pinochet. A história ganhou novos capítulos essa semana, quando um sobrinho de Neruda, Rodolfo Reyes, afirmou que um relatório científico concluiu que o tio foi envenenado — mas o caso ainda parece estar longe de ser encerrado.
Na quarta-feira, 16, a juíza Paola Plaza, responsável pelo caso, contrariou a declaração de Reyes, alegando que o tribunal ainda não teve acesso ao conteúdo de tais relatórios. “Não posso assumir a responsabilidade pelo que está circulando na imprensa e se algum dos participantes teve conhecimento prévio”, disse Plaza, que lidera a investigação iniciada há mais de uma década. “Agora vem uma fase de revisão, estudo, ponderação, análise para que o tribunal dite as resoluções que correspondam por lei”.
Além da juíza, quem também se manifestou sobre o caso foi Bernardo Reyes, sobrinho-neto do autor. Em uma declaração feita em nome da família à agência AFP, ele afirmou que “a conclusão científica não poderá determinar sua associação com um ato homicida”, e alegou que, até 1973, “ainda não havia no país, durante a ditadura, um desenvolvimento de assassinatos com técnicas químicas”, chamando os denunciantes de “porta-vozes arrogantes, que sequer representam a família”.
O caso intrincado começou em 2011, quando um antigo motorista de Neruda revelou em depoimento que o escritor ligou para ele horas antes de morrer, afirmando ter recebido uma injeção suspeita no estômago enquanto dormia. Com isso, o corpo do chileno foi exumado e uma investigação foi iniciada. A suspeita é de que Neruda teria sido assassinado a mando de alguém ligado ao ditador Augusto Pinochet, que deu um golpe militar no país doze dias antes da morte do escritor, um ferrenho opositor do mandatário. Segundo Rodolfo Reyes, os cientistas teriam encontraram na ossada uma toxina produzida pela bactéria clostridium botulinum, que causa botulismo. “Encontramos a bala que matou Neruda, estava dentro de seu corpo. Quem a disparou? Em breve vamos descobrir”, disse Reyes à agência EFE.