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O desenrolar dos roubos do maior ladrão de obras raras do Brasil

Itaú devolve à Biblioteca Nacional quatro peças roubadas por Laéssio Oliveira, o homem que saqueou diversas instituições culturais no país

Por Redação
Atualizado em 4 dez 2018, 11h14 - Publicado em 4 dez 2018, 11h07
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  • Um novo capítulo se abre na longa e absurda história de Laéssio Oliveira, chamado de maior ladrão de obras raras do Brasil. O Itaú Cultural devolveu nesta segunda, 3, quatro peças roubadas da Biblioteca Nacional em 2004 e que estavam em seu acervo. São elas: a litografia Rio de Janeiro Pitoresco (1842-1845), de Buvelot e Moreau e três desenhos de Keller-Leuzinger que retratam a Amazônia, feitos entre 1865 e 1868.

    O perito Joaquim Marçal revelou que os desenhos foram mais fáceis de serem identificados, já que há farta documentação sobre eles. Já a litogravura, outrora monocromática, foi raspada e colorida recentemente com lápis diferente do usado no início do século XIX. Com uma luz especial, os técnicos puderam identificar o número do cofre em que ficava na BN.

    Rio de Janeiro Pitoresco
    Litografia ‘Rio de Janeiro Pitoresco’ de Louis Buvelot (Imagem/Reprodução)
    Keller Leuzinger – Manaus
    Manaus, desenho de Keller-Leuzinger (Imagem/Reprodução)

    O imbróglio teve início quando Laéssio, ladrão confesso dessas e de outras obras, mandou, da prisão, no começo do ano, uma carta a várias pessoas e instituições em que contava que as gravuras de Emil Bausch pertencentes à coleção do Itaú Cultural tinham sido roubadas por ele e vendidas ao colecionador Ruy Souza e Silva — que, por sua vez, as vendeu ao Itaú. Silva é ex-marido de Neca Setubal, herdeira do banco, e disse à época que tinha comprado o material numa loja de Londres. Em março, uma perícia confirmou que as gravuras era da Biblioteca Nacional. Em abril, as duas instituições assinaram um convênio para avaliar todas as obras sob suspeita.

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    Foram enviadas, ao todo, 102 obras em três lotes, das quais foram confirmados esses quatro itens devolvidos agora. De todo o lote, apenas 32 foram descartadas como não pertencentes à Biblioteca Nacional. O laudo foi inconclusivo para as demais, já que elas foram manipuladas, lavadas ou recoloridas.

    Segundo a Biblioteca Nacional, ela foi vítima de dois grandes roubos em 2004 e 2005, enquanto era presidida pelo editor e colecionador Pedro Correa do Lago, que também é o curador da coleção Itaú. Um inquérito foi instaurado pela Polícia Federal, que está ouvindo os envolvidos na história.

    A história de Laéssio

    Laéssio Oliveira, 45 anos, ficou conhecido em 1998 quando retirou da Biblioteca Nacional de São Paulo 14 revistas e jornais antigos, com valor calculado, na época, em 750.000 dólares. 

    Ao longo de mais de duas décadas, ele furtou obras, revistas, livros, documentos e pinturas de instituições como Biblioteca Nacional, Biblioteca Mário de Andrade, Palácio do Itamaraty, Fundação Oswaldo Cruz, Universidade de São Paulo (USP), Museu Nacional, entre outros. Do Museu que acabou consumido pelo fogo este ano, Oliveira teria roubado 3.000 gravuras, além de revistas e livros. “Salvei essas peças, não é mesmo?”, diz, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

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    Oliveira participou do maior furto de livros raros já registrado no país na antiga Biblioteca Central da Universidade do Brasil, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De lá, desapareceram 303 obras raras, entre elas os 16 volumes da primeira edição dos Sermões de padre Antônio Vieira (1610) e muitos títulos com gravuras, que eram cortados a navalha e vendidos separadamente. Já em valores, o maior roubo foi no Palácio do Itamaraty, no Rio, quando furtou 2.000 documentos avaliados em 1,5 milhão de reais.

    Ele começou a “atividade” para reforçar uma coleção particular de fotos sobre Carmem Miranda. Ao perceber a facilidade de efetuar o roubo e o descuido dos acervos históricos do país, Oliveira, que estudou Biblioteconomia, ampliou a ação. Sua primeira prisão foi em 2004, quando um antiquário fez uma denúncia após descobrir que havia comprado um livro roubado do Museu Nacional (a obra avaliada em 75.000 reais foi vendida por 1.500 reais por Oliveira). Desde então, ele deu entrada cinco vezes no sistema prisional, somando mais de uma década na prisão. Atualmente, responde a processos em liberdade e colabora com investigações da Polícia Federal.

    Natural de Teresina, com pai eletricista e mãe cuidadora de idosos, Oliveira cresceu em São Bernardo do Campo e se infiltrou na alta sociedade para comercializar os roubos. Toda a história rendeu o documentário lançado este ano, Cartas para um Ladrão de Livros, de Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini.

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    Um filme inspirado na história, chamado Ladrão de Livros, está em desenvolvimento, com filmagens marcadas para 2019 e previsão de estreia em 2020. Mauro Lima, de longas como Tim Maia e Meu Nome Não é Johnny, será o diretor.

    (Com Estadão Conteúdo)

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