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“Novo normal”: minha primeira vez em um cinema drive-in na era da pandemia

Após 90 dias de quarentena, como foi a experiência de ver um filme ao ar-livre no Memorial da América Latina, em São Paulo, de dentro do carro

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 jun 2020, 14h24 - Publicado em 17 jun 2020, 13h12
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  • Depois de quase 90 dias de quarentena, finalmente saí de casa para uma diversão compartilhada (e segura): um cinema drive-in. Até então trabalhando em esquema home-office, só deixei meu apartamento para atividades essenciais, como ir ao supermercado ou a farmácia. Nesta terça-feira, 16, mesmo sem sair do carro, estacionado no Memorial da América Latina, na Barra Funda, em São Paulo, pude novamente curtir aquela sensação gostosa de dividir o mesmo espaço com pessoas desconhecidas. Ou seja: enfim tive a chance de conhecer o tal “novo normal” do entretenimento em tempos de pandemia.

    Organizado pelo Cine Petra Belas Artes em parceria com o Memorial da América Latina, o cinema ao ar livre exibiu em um telão de 15 metros de largura por 9 de altura o inédito Os Melhores Anos de Uma Vida, de Claude Lelouche, um filme francês selecionado para o Festival de Cannes de 2019. Por pouco, no entanto, que eu não levei uma multa. Me programei para sair às 19h30, mas esqueci, depois de tanto tempo em casa, que terça-feira era o dia do meu rodízio. Alertado pelo Waze, esperei dar 20h e, como não tinha trânsito, cheguei a tempo. Fica a dica: como se trata de uma atração em que o carro é essencial, antes de comprar o ingresso, cheque o dia do seu rodízio.

    O espaço, que tem capacidade para 100 carros, estava lotado para uma exibição especial para a imprensa e as 43 sessões que ocorrerão nas próximas quatro semanas também já estão esgotadas. Por causa disso, a programação foi estendida e nesta quarta-feira novos ingressos serão colocados à venda para mais duas semanas, de 14 a 26 de julho, no site cinebelasartes.com.br/drive-in. O valor é de 65 reais por carro limitado com até quatro pessoas – então, nem adianta encher uma Kombi com 12 pessoas porque não vai rolar.

    Lá dentro, os funcionários indicam os espaços delimitados no chão onde se deve estacionar os carros para não atrapalhar a visão de ninguém. A pipoca, o refrigerante (e também a cerveja) da bombonière têm de ser compradas com os ingressos pela internet. Quando você chega ao local, basta apresentar o QR Code que um dos 25 funcionários entregará os produtos. Não há a opção de pagar na hora. Ou você pode levar de casa, mas a pipoca caseira nunca é igual à aquela versão toda amanteigada do cinema. Só não pode fazer igual a mim: desengonçado, esbarrei no pacote e derrubei tudo no chão do carro.

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    Embora eu tenha levado minha máscara, fiquei sem ela enquanto estava dentro do carro, até porque estava sozinho. Quando precisei ir ao banheiro, liguei o pisca-alerta e um funcionário veio até mim, ressuscitando a figura do lanterninha. Vesti a máscara e ele me apontou a direção do lugar. Sem filas e com distanciamento seguro.

    Tudo foi pensado para dar a sensação de estar no cinema. Antes do filme, são apresentados os trailers e depois as luzes vão baixando devagarinho até a escuridão (quase) total, já que estando no meio de uma metrópole a céu aberto, e é meio que impossível ficar totalmente no escuro. Não incomoda e é até charmoso ver o telão emoldurado pelas luzes dos prédios.

    drivein
    De dentro do carro, a visão do telão é emoldurada pelas luzes da cidade – (Felipe Branco Cruz/VEJA)
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    Assistir a um filme dentro do carro tem suas vantagens e desvantagens. O som vem cristalino pelo rádio, sintonizado na estação 107,5 FM e você pode reclinar a poltrona da maneira que quiser (diferentemente do cinema). Dá até, por que não?, para tirar o calçado e botar os pés para cima. Se quiser, você pode também dar aquela espiadinha no celular sem incomodar ninguém (o que eu não recomendo). Mas é impossível assistir ao filme com os vidros fechados, pois eles embaçam. Também não dá para ficar com o carro e o ar-condicionado ligados. De acordo com a produção, aliás, o drive-in vai funcionar mesmo com chuva. A boa notícia é que junho e julho são meses mais secos.

    Com uma programação de clássicos, serão exibidos no drive-in do Belas Artes títulos como Cinema Paradiso, Laranja Mecânica, A Vida é Bela, O Iluminado e De Olhos Bem Fechados. Filmes infantis e de terror também estão na lista. Nos últimos anos, o Petra Belas Artes se reinventou. Há pouco tempo, o tradicional cinema de rua, que conta com seis salas de até 250 lugares, enfrentou uma crise sem precedentes e quase fechou as portas. Após a operação ter sido assumida por uma marca de cerveja, as sessões nos finais de semana passaram a atrair até 4.000 pessoas. Agora, eles saem na frente na moda dos drive-ins em São Paulo. Numa conta rápida, se cada carro tiver duas pessoas, as 43 sessões já lotadas vão atrair 8.600 pessoas. Um número nada desprezível.

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