Sempre fui próximo dos meus pais. Minha mãe, Priscilla Presley, começou a se relacionar com meu pai, o cineasta Marco Garibaldi, sete anos após a morte do Elvis Presley (1935-1977), seu primeiro marido. Eles viveram juntos até eu completar 19 anos. Por toda juventude, levei a vida de um jovem normal. Mas em 2017, aos 30, descobri que meu pai escondera algo de mim a vida inteira: tinha uma família no Brasil. Ele sempre me falava de suas raízes italianas. Um dia, porém, um primo de Curitiba me encontrou pelas redes sociais e me mandou uma mensagem. Ao questionar meu pai, ele chegou a dizer que eu não podia confiar em estranhos na internet. Deixei passar, mas pouco depois fui atrás daquele suposto parente e fiz perguntas. Foi quando recebi uma foto de meu pai junto com esse primo e tios em Los Angeles, na mesma data em que eu também estive por lá, só que em outro local. Constatei que meu pai se encontrava escondido com eles e dava desculpas para minha ausência, dizendo que eu estava ocupado — mas eu não fazia a mínima ideia disso. Confrontei-o novamente, e ele mandou apagar o número de celular dele. Desde então, não nos falamos. Duas semanas após aquela conversa, voei para Curitiba e conheci pessoas maravilhosas. Perdi um pai, mas ganhei duas dezenas de familiares brasileiros.
Há seis meses, também fui abordado por supostos irmãos e irmãs que moram aqui em Los Angeles. Mas, sempre que tento encontrá-los, alguma coisa acontece: o telefone deles não funciona, ou há um imprevisto. Ainda estou averiguando, mas começo a suspeitar que seja outro segredo de família. Meu pai sempre me disse que era italiano, e cresci acreditando que eu também era. Depois, me deparei com uma série de mentiras. Sei que ele deixou o Brasil quando tinha 18 anos e logo se casou com uma americana para conseguir o green card. Tempos depois, deu um jeito de se apresentar para minha mãe e, por ser carismático, conseguiu conquistá-la. Hoje, vejo que ele se aproveitou dela, pois insistiu para que engravidasse de mim. Meu pai era basicamente um golpista, e eu acho que minha mãe sabe mais coisas do que chegou a me contar, e ficou com ele por tanto tempo na intenção de me proteger da verdade.
Elvis morreu dez anos antes de eu nascer, mas minha mãe costumava colocar seus discos para tocar em casa de vez em quando. Eu mesmo peguei em uma guitarra pela primeira vez aos 7 anos, e minhas mãos mal conseguiam segurar o instrumento. Aos 12, meu melhor amigo começou a tocar rock todos os dias. A certa altura, notei que eu deveria aprender também, para termos algo em comum. Logo a música se tornou uma paixão incontrolável. Começamos uma banda juvenil juntos e passamos a nos apresentar em bares locais. Fizemos uma série de ótimos shows, mas tivemos um problema que acabou separando o grupo. Depois disso, me mudei para Santa Cruz (cidade na Califórnia) e montei outra banda com amigos do Colorado. Assim surgiu a Them Guns. Fomos para Los Angeles, gravamos um disco e hoje estamos bem encaminhados, fazendo turnês e lançando novos álbuns.
Minha meia-irmã, Lisa, morreu em janeiro. Nós já não éramos tão próximos, mas nos amávamos muito. Acho que tínhamos um relacionamento melhor quando podíamos estar perto um do outro. Felizmente, tenho uma ótima relação com minha mãe. Ambos moramos em Los Angeles e nos vemos com frequência. Além disso, ela já viajou ao Brasil comigo e foi muito bem recebida pela minha família curitibana. Pretendo me mudar para o país temporariamente a partir de agosto. Já tenho projetos musicais engatilhados por aí e sonho em tocar no Rock in Rio. A música sempre foi importante em minha vida.
Navarone Garibaldi Garcia depoimento dado a Kelly Miyashiro
Publicado em VEJA de 14 de Junho de 2023, edição nº 2845