Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Mostra reforça a atração que o Egito Antigo causa até hoje

Mostra vista por 1,4 milhão de pessoas no Rio, exposição chega a São Paulo

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 fev 2020, 10h14 - Publicado em 21 fev 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Para os antigos egípcios, a morte era uma obsessão que ditava todos os detalhes da vida. Dos figurões da corte dos faraós ao mais humilde peão que carregava pedras para a construção das pirâmides, as pessoas gastavam boa parte de seu tempo — e riqueza — bolando estratégias para alcançar a imortalidade. Era preciso negociar com uma infinidade de deuses e, sobretudo, seguir um roteiro intrincado para não ter problemas na “passagem” para o outro lado. Os egípcios mumificavam corpos para conservá-los intactos no além-túmulo. Na dúvida, porém, tinham mil seguros contra acidentes de percurso: das inscrições nos caixões aos utensílios agregados às tumbas, tudo visava a que o falecido tivesse não só vaga garantida no paraíso, mas também uma vida tranquilona após a morte.

    Publicidade
    HORA DA SELFIE – Esfinge do domínio romano (30 a.C.-395 d.C.): para ver e se fotografar juntinho, pois ninguém é de ferro (Museo Egizio/.)

    + Compre o livro ‘O Egito Antes dos Faraós: E Suas Misteriosas Origens Pré-Históricas’

    Publicidade

    Os egípcios podem não ter chegado à vida eterna do jeito que imaginavam. Mas, ainda que por vias tortas, seus esforços tiveram o efeito desejado: nenhuma outra civilização desaparecida permaneceu tão viva no imaginário humano ao redor do mundo. Não há prova melhor disso que o sucesso da exposição Egito Antigo — Do Cotidiano à Eternidade. Em pouco mais de quatro meses, ela levou mais de 1,4 milhão de pessoas à filial carioca do Centro Cultural Banco do Brasil — o que faz do evento um equivalente no universo das mostras à, digamos, última turnê de Sandy & Junior: foi recorde absoluto de público no CCBB e obteve uma das maiores médias de visitação em todo o planeta em 2019, sempre com alta presença de crianças, adolescentes e pais — todos ávidos, claro, pela selfie ao lado de um sarcófago ou de uma esfinge. Antes de a exposição chegar a São Paulo, nesta semana, 50 000 pessoas já haviam agendado a visita (o acesso é gratuito). As 140 relíquias vindas do Museu Egípcio de Turim, na Itália, ainda vão rodar bastante: devem aportar em Brasília, em 2 de junho, e, por fim, em Belo Horizonte, em 16 de setembro.

    BELEZA FEMININA – Estátua de mulher da XXV Dinastia (722-655 a.C.): figuras humanas quase de carne e osso (Museo Egizio/.)

    + Compre o livro ‘Como seria sua vida no Antigo Egito?’

    Publicidade

    A história do museu italiano é um belo ponto de partida para entender como nasceu a paixão pelo Egito Antigo. O interesse pelos tesouros do tempo dos faraós vem, a rigor, desde a Antiguidade: é célebre o relato que o historiador grego Heródoto fez de sua viagem ao país no século V a.C., narrando a grandiosidade de seus templos e tumbas, bem como detalhes valiosos do processo de mumificação. Mas a curiosidade só se converteu em mania irrefreável após a famosa campanha do francês Napoleão Bonaparte ao Egito, em 1798. Napoleão levou para lá não apenas tropas, mas uma comitiva de 160 estudiosos com a missão de debruçar-se sobre a civilização que floresceu por 5 000 anos. Depois da expedição francesa, reis e colecionadores iniciaram uma corrida para levar peças egípcias para seu país. O porto italiano de Livorno tornou-se o maior entreposto mundial desse efervescente (e hoje proibido) comércio de mercadorias. Isso deu uma vantagem aos italianos logo de saída: pelo equivalente a mais de 60 milhões de euros atuais, um monarca da casa nobre de Saboia adquiriu o acervo que, em 1824, daria origem à primeira grande vitrine de relíquias do Egito no mundo.

    Continua após a publicidade
    MIADO ANCESTRAL – Múmia de gato: elas eram comuns, mas nem sempre verdadeiras (Museo Egizio/.)

    Hoje, o museu de Turim possui a segunda maior coleção do gênero, com 35  000 peças — só perde para o imbatível Museu do Cairo. O acervo que se encontra em exibição permanente em Turim inclui múmias em estado de conservação impressionante e uma estupenda ala de esculturas gigantes. O Brasil está recebendo um apanhado decente da coleção. Objetos ilustram o cotidiano dos egípcios comuns, de inscrições e pinturas em pedra que representam cenas familiares a utensílios para maquiagem feminina. Exemplos da arte monumental dos templos também podem ser vistos — entre os quais o maior peso-pesado da mostra: uma estátua de Sekhmet, a deusa-leoa, com mais de 600 quilos.

    Publicidade
    DIVINO E MUNDANO – Tampa de caixão ricamente decorada (à esq.), estátua que representa um casal (acima) e imagem de Ba, deus com corpo de pássaro: viagem do cotidiano à religião (Museo Egizio/.)

    + Compre o livro ‘O Livro dos Mortos do Antigo Egito’

    O cerne da exposição, contudo, está nas peças que falam da relação dos egípcios com a morte. Esculturas retratam barcos levando pessoas à viagem final. A ala dos caixões traz desde um exemplar basiquinho adornado apenas com um par de olhos — através dos quais o morto podia conferir as oferendas na tumba — até uma imponente tampa de sarcófago feita de pedra. Em meio a eles, há um caixão ricamente pintado mas com fundo manchado — testemunho do estrago causado por uma múmia malfeita. “Serviço porco já existia. Muita gente era enganada por embalsamadores fajutos”, diz o produtor da mostra, Pieter Tjabbes. A mesma lógica do jeitinho regia a ligação dos egípcios com seus pets. Era tradição entre eles fazer múmias de seus gatos para ofertá-las aos deuses. Só que havia atravessadores no caminho. “Muitas dessas múmias eram recicladas ou não tinham gato nenhum dentro”, afirma Tjabbes.

    Publicidade
    TARBEVSSIA – Bela estela funerária da XVIII Dinastia (1550-1295 a.C.) e barco (abaixo) conduzindo ao reino dos mortos: táticas para se dar bem no além-túmulo (Museo Egizio/.)

    É graças às minúcias prosaicas que se começa a desvendar o fascínio resiliente pelo Egito Antigo: aquelas pessoas que viveram em uma era remota deixaram marcas tão milagrosamente vívidas de sua intimidade e imaginação que quase se pode vê-las em carne e osso diante dos olhos. “Os egípcios nos atraem tanto porque seu legado dá um senso de imortalidade a todos”, diz o diretor do Museu Egípcio de Turim, o italiano Christian Greco. Vida eterna aos faraós — e a nós.

    Publicado em VEJA de 26 de fevereiro de 2020, edição nº 2675

    Publicidade

    CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR


    O Egito Antes dos Faraós: E Suas Misteriosas Origens Pré-Históricas

    Como seria sua vida no Antigo Egito?

    O Livro dos Mortos do Antigo Egito

    *A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.