Morre responsável por ‘restauração do século’ na Capela Sistina
Gianluigi Colalucci, morto nesta segunda-feira aos 92 anos, realizou a manutenção dos afrescos de Michelangelo no Vaticano, entre 1980 e 1994
O artista italiano Gianluigi Colalucci, conhecido por ter liderado a restauração dos afrescos de Michelangelo (1475-1564) na Capela Sistina, no Vaticano, morreu no último domingo, 28, aos 92 anos, em Roma, de acordo com comunicado divulgado pelos Museus do Vaticano nesta segunda-feira, 29. A causa da morte não foi revelada.
“O mestre Gianluigi Colalucci morreu esta noite. Foi ele quem dirigiu o trabalho de restauração dos afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, considerada por muitos como a restauração do século. É graças à sua coragem e talento que hoje as cores da abóbada e do Juízo Final de Michelangelo aparecem em todo o seu esplendor deslumbrante”, escreveu a equipe dos Museus do Vaticano nas redes sociais.
Colalucci foi o chefe da equipe que, entre 1980 e 1994, debruçou-se sobre uma das obras mais famosas do Renascimento, pintada por Michelangelo entre 1508 e 1541.
Ainda no fim dos anos 1970, o Vaticano deu início à recuperação da Capela Sistina, em especial os afrescos de Michelangelo — tanto o teto quanto o Juízo Final, feito posteriormente na parede do altar. Sob tensão, o mundo das artes voltou os olhos para o templo católico construído no século XV sob os auspícios do papa Sisto IV, de quem advém o nome.
A preocupação era legítima: e se os restauradores causassem danos irreversíveis a uma das maiores joias do Renascimento? Sob a batuta de Colalucci, foram removidas sujeira, fuligem e cera acumuladas por séculos. Durante os trabalhos, os técnicos ficaram sob o escrutínio de especialistas em arte. A maior preocupação era a eventual remoção dos retoques de tinta seca que Michelangelo teria feito depois da obra terminada, já que pinceladas assim não resistem nem mesmo à água.
A longa e complexa restauração permitiu reaplicar as partes destacadas do pigmento e lavar a tinta escurecida com solventes e água destilada para realçar o brilho das cores das obras. “É um dia triste para os Museus do Vaticano e para o mundo da restauração. Um grande homem, um grande profissional, um dos maiores restauradores do século passado nos deixou”, afirmou diretora dos museus, Barbara Jatta.
Obra recebeu críticas na época
Segundo obituário do jornal Corriere della Sera, Colaliucci nasceu em Roma, em uma família de advogados, e formou-se no Instituto Central para a Restauração de Roma. Iniciou a sua atividade profissional no Laboratório de Restauro da Galeria Nacional da Sicília , preservando uma grande quantidade de obras de arte, passando posteriormente a trabalhar em Creta e Pádua. Nos anos 1960, entrou no Laboratório de Restauração de Pinturas dos Museus do Vaticano e em 1979 tornou-se o seu principal restaurador.
Seu trabalho, no entanto, não foi imune a críticas. “Tive muito apreço por Colalucci, conheci-o ainda antes de se tornar famoso pela restauração da Capela Sistina, obra para a qual se encontrava no centro de grande polêmica”, lembrou Claudio Strinati, historiador de arte italiana. “Mas quem o atacou e apontou o dedo ao seu trabalho errou. Sempre achei que era um trabalho bem feito.”
Strinati lembrou que muitos críticos o acusaram de ter “exagerado na limpeza dos afrescos e ter tornado as cores muito brilhantes.” “Colalucci sempre respondeu de forma serena mas firme, explicando os detalhes técnicos com meticulosidade. Depois de tantos anos, acredito que figuras como Colalucci também devem ser reconhecidas por terem sido o expoente de uma forma de administrar e responder a acusações de maneira sempre civilizada e nobre.”