Karl Lagerfeld morreu na manhã desta terça-feira, 19, em Paris, aos 85 anos. O estilista alemão estava internado desde segunda 18 no American Hospital of Paris. Em janeiro, havia dado sinal de problemas de saúde, se ausentando dos desfiles de sua grife na Semana de Moda de Paris, algo inédito. A causa da morte ainda não foi divulgada.
Com uma carreira de 70 anos, Lagerfeld acumulou feitos e inovações no universo da moda que o colocaram acima das próprias marcas que dirigiu. Diretor criativo da parisiense Chanel, um dos mais notáveis postos do universo fashion, foi responsável pela atualização da marca criada por Gabrielle Chanel em 1919.
“Graças ao seu gênio criativo, generosidade e intuição excepcionais, Karl Lagerfeld estava à frente de seu tempo, o que contribuiu vastamente para o sucesso da casa ao redor do mundo”, disse Alain Wertheimer, CEO da grife e responsável pela contratação do alemão.
O estilista atuou desde os anos 1980 na Chanel com inédita carta branca, questionando até as decisões de sua fundadora. Gabrielle Chanel não gostava das minissaias na alta moda, ainda assim, o estilista acrescentou as peças aos desfiles, dos quais baniu as peles de animais e imprimiu mais leveza e estampas para alcançar mercados mais jovens. No que foi muito bem-sucedido, contribuindo com a expansão dos negócios da marca.
No anos passado, o estilista foi reconhecido com a Medaille Grand Vermeil de la Ville, distinção concedida pela prefeitura a pessoas que contribuíram notavelmente à cidade. “Você é Paris”, disse a prefeita Anne Hidalgo na ocasião. “Paris te ama.”
E não apenas Paris. A italiana Fendi, outra casa tradicional de alta moda italiana também se rendeu ao Kaiser – apelido nos camarins dos grandes desfiles, que colocou a Fendi entre as grifes mais aplaudidas das semanas de moda. Natural de Hamburgo e formado em desenho no Lycée Montaigne, em Paris, Lagerfeld dizia que desenhar, para ele, era como respirar. Aos 22 anos, em 1955, venceu um concurso de moda em Paris com o desenho de um casaco de lã. O reconhecimento o levou a se tornar assistente de Pierre Balmain.
Lagerfeld era um workaholic e acumulava trabalho para muitas marcas – a sua própria inclusive, desde os anos 1970. Não tinha papas na língua, criticava colegas e ícones e dizia o que pensava sobre os movimentos da moda. Achava, por exemplo, o movimento #MeToo falacioso, e o acusava de atrapalhar a criação artística. Ao mesmo tempo, dizia que seu pivô, o produtor Harvey Weintein “insuportável”.
Foi um revolucionário não só na estética, criando desfiles com cenários tão ou mais grandiosos que as roupas, mas também no mercado. Em um tempo em que a alta costura ainda olhava feio para o fast fashion, o estilista levou suas criações para a periferia da moda: os jovens de países em desenvolvimento. No Brasil, ele criou para a Riachuelo. No ano passado era possível comprar uma bolsa com sua assinatura por 49 reais na loja de departamentos. Uma de mesmo tamanho criada para a Chanel custa em média hoje entre 17 e 25 mil reais.