O cartunista argentino Quino, que ganhou popularidade com a personagem Mafalda, morreu aos 88 anos. A informação foi divulgada nos perfis oficiais do autor nas redes sociais.
Familiares y amigos informamos que esta mañana falleció nuestro Querido Maestro, Quino❤️🌹#quino #mafalda #adiosmaestroquino pic.twitter.com/2CnyWPfEh4
— Mafalda (@MafaldaDigital) September 30, 2020
Nascido em 1932, Joaquim Salvador Lavado foi apelidado de Quino ainda na infância pela família de imigrantes andaluzes que se estabeleceu em Mendoza, na Argentina, perto da cordilheira dos Andes. Muito tímido, o garoto começou a desenhar incentivado por um tio publicitário, que também se chamava Joaquim. “Quando percebi tudo que saía de um lápis, soube que queria ser desenhista”, disse em entrevista ao jornal El País. Na juventude, ingressou na Faculdade de Belas Artes até se voltar especificamente para o humor em quadrinhos e tiras para jornais.
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Clique e AssineMafalda nasceria em 1964, uma garotinha esperta, contestadora e filosófica, inicialmente criada para uma campanha publicitária. Ela ganhou espaço nas tiras dos jornais, foi tema de livros e, quase sem querer, se tornou uma espécie de símbolo contra a repressão que viria a ser vivida pelos argentinos, durante o regime militar no país, na década de 1970. Mafalda ainda conquistou outros países, como o Brasil, onde chegou em 1973, na Revista Patota, também em plena ditadura militar. No ano de sua estreia por aqui, Quino anunciava na Argentina que não mais criaria novas histórias para a personagem, pois ela tinha se tornado algo além do que ele imaginava.
Por causa da ditadura, Quino e a esposa, Alicia Colombo, se mudaram para Milão, na Itália, em 1976, retornando à Argentina nos anos 1980. Ele conquistou honrarias, como o Prêmio das Astúrias de Comunicação e Humanidades, em 2014. Nos últimos anos, lidou com problemas de saúde, como a perda de boa parte da visão, causada por um glaucoma.
Mafalda se mantém atual e, até hoje, é a tira em quadrinhos latino-americana mais vendida no mundo. Os temas tratados por ela, como repressão, amadurecimento e liberdade, fizeram com que a personagem ganhasse nova vida nas redes sociais, onde os balões com falas são substituídos por frases feitas à revelia dos leitores.
Mesmo recluso, Quino ainda deu algumas poucas entrevistas e se posicionou contra uma fake news, em 2018, que usava seu nome e a imagem de Mafalda com mensagens contra o direito da mulher ao aborto na Argentina. “Não autorizei este desenho e ele não reflete minha posição”, divulgou na época.
Ao jornal El País, ele comentou o peso da idade. “A velhice é uma porcaria que assusta muito. Eu dou um sentido político à velhice. É como se o Pinochet lhe caísse em cima e começasse a proibir coisas: isto não, aquilo tampouco.”