Ela diz “Estou com medo” e pede “Para, para”, mas ele avança, impassível e violento. Rasga o vestido de noiva que ainda a cobre, a lança sobre a cama e a domina com seu corpo, imobilizando-a e batendo nela até se satisfazer. A cena, suavizada por imagens metafóricas em que a mocinha da trama, Clara (Bianca Bin), sufoca no fundo de um rio, deu o tom do segundo capítulo de O Outro Lado do Paraíso, a nova novela das 9 da Globo que, depois de uma estreia chocha na segunda-feira, pareceu começar a mostrar a que veio.
Um dos temas do folhetim, de autoria de Walcyr Carrasco (de Amor à Vida e da sensacional Verdades Secretas), será violência doméstica. Mais precisamente, o relacionamento abusivo que, de maneira geral, é caracterizado por um homem violento e uma mulher sempre disposta a perdoá-lo, seja por medo, amor ou pela esperança de que ele vá se modificar.
“Amigos, relacionamento abusivo existe. O tema nunca foi debatido como vou debater agora”, escreveu no Twitter Walcyr Carrasco. O Outro Lado do Paraíso, vale lembrar, não é a primeira novela a tratar do asunto. Em Mulheres Apaixonadas (2003), de Manoel Carlos, a personagem de Helena Ranaldi apanhava do marido, vivido por Dan Stulbach. Ele costumava bater nela com uma raquete de tênis, depois jurava amor e era perdoado. Carrasco, porém, promete carregar nas tintas da relação entre Gael e Clara.
Gael (Sergio Guizé), o espectador logo vai saber, está longe de mudar. Este é mesmo o seu perfil: machista, tacanho e agressivo. O casamento com Clara já é o seu segundo, e o primeiro naufragou por causa da violência. A ex-mulher do playboy de Palmas (TO), Aline (Chandelly Braz), não suportou a vida ao lado do marido ciumento, que a controlava, humilhava e espancava.
A pobre Clara também vai se libertar. Mas a mocinha é tão ingênua que terá de sofrer muito até perder a inocência e enxergar Gael como ele de fato é. As marcas roxas que tinha no braço na manhã seguinte à noite de núpcias – quem acompanhou o Big Brother Brasil deste ano certamente se lembrou do caso de Emilly e o ex-namorado, o gaúcho Marcos – não foram suficientes para fazê-la ver com clareza quem é o marido. Clara ainda vai apanhar muito – uma violência que será também e sobretudo psicológica – e só abrirá os olhos depois de passar dez anos confinada em um manicômio pela maléfica sogra, Sophia (Marieta Severo), que a deseja longe das valiosas terras da família, onde espera encontrar esmeraldas para explorar.