Ministro da cultura ucraniano pede boicote a Tchaikovsky
Em artigo publicado no jornal inglês 'The Guardian', Oleksandr Tkachenko defende que Rússia tem usado cultura como forma de propaganda
Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893) foi o primeiro russo cuja música rompeu com as barreiras do gigante euro-asiático para ganhar prestígio internacional. Agora, quase 130 anos após sua morte, suas peças podem ser vetadas como resposta à invasão da Ucrânia por Vladimir Putin. “Como ministro da Cultura da Ucrânia, peço que boicotem Tchaikovsky até que esta guerra termine”, escreveu Oleksandr Tkachenko em um artigo para o jornal inglês The Guardian.
Embora Tchaikovsky tenha sido citado nominalmente, o texto não se restringe ao compositor clássico. É, na verdade, um pedido de boicote à cultura russa de um modo geral. Tkachenko cita um decreto assinado por Putin em setembro que fala sobre a promoção da cultura russa no mundo e alega que ela foi usada por membros do Kremlin “para justificar sua terrível guerra”. “Boicotar a cultura russa é um passo importante. Não estamos falando em cancelar Tchaikovsky, mas sim em interromper as apresentações de suas obras até que a Rússia cesse sua invasão sangrenta”, diz ele, complementando que espaços culturais ucranianos já colocam o boicote em prática. “Estamos pedindo aos nossos aliados que façam o mesmo.”
Até hoje um dos nomes mais conhecidos da música de sua terra natal, Tchaikovsky já era falecido quando a revolução russa estourou, em 1917, e se manteve afastado da política ao longo da carreira. É quase consenso entre historiadores, no entanto, que o compositor era secretamente homossexual, o que costuma atrelar a ele uma visão de tolerância. A música clássica, por outro lado, fortemente ligada à elite endinheirada e conservadora, já foi relacionada à regimes autoritários em diversas ocasiões. O alemão Richard Wagner, por exemplo, era abertamente antissemita e músico preferido de Adolf Hitler. Nascido na Rússia e com cidadania francesa e americana, Stravinsky era um admirador convicto de Mussolini e do fascismo, assim como o italiano Giacomo Puccini.
No cenário recente, Valery Gergiev foi boicotado em praticamente todo o Ocidente pelo apoio a Putin. Conhecido como o maior maestro russo em atividade, e um dos mais famosos do mundo, Gergiev, de 68 anos, é um apoiador fiel de Vladimir Putin: os dois se conheceram no início dos anos 1990, quando Putin era oficial em São Petersburgo e Gergiev estava começando seu mandato no Teatro Mariinsky. O presidente russo, inclusive, desempenhou um papel importante no sucesso de Gergiev, fornecendo financiamento para o Mariinsky.