Como todo o mundo, Jake Gyllenhaal conhecia Jeff Bauman pelas fotos logo após o atentado na maratona de Boston, em 2013, quando ele, em choque, era socorrido depois de perder parte das duas pernas. Mas o ator quis saber mais sobre aquele homem. “Me apaixonei por ele e por sua luta”, disse em entrevista coletiva no Festival de Zurique, onde recebeu o prêmio Olho de Ouro. “Muitos filmes hoje em dia são sobre grandes personagens fazendo coisas grandiosas. E acho os gestos simples tão importantes quanto. Não apenas queria interpretar, mas também ter certeza de que o filme chegaria à tela.” Foi por isso que ele resolveu produzir O Que Te Faz Mais Forte, dirigido por David Gordon Green, por meio de sua companhia Nine Stories. O longa-metragem tem sessões no Festival do Rio a partir desta sexta-feira (6).
O filme começa apresentando Jeff como um sujeito bem-humorado, que trabalha num hipermercado e é de família simples e barulhenta. Ele tem tremenda dificuldade com compromissos. Mas promete à ex-namorada Erin (Tatiana Maslany) que vai prestigiá-la na linha de chegada da maratona de Boston. Desta vez, ele cumpre o prometido. E as bombas estouram bem a seu lado, fazendo com que suas duas pernas sejam amputadas acima do joelho. O Que Te Faz Mais Forte então mostra sua lenta e dolorosa recuperação, que inclui se adaptar à nova vida e, mais tarde, às pernas mecânicas – um processo que Jeff leva, em geral, com bom humor, mesmo quando insistem em chamá-lo de herói.
Gyllenhaal passou um ano com Jeff e sua família. “Jeff mudou minha vida. Havia algo apontando para o absurdo de filmar esse processo o tempo todo. Eu estava levando a sério, mas eu vi como era importante me divertir”, disse o ator. “Também senti mais a relevância de comunidade, não que não percebesse isso antes com isso. Ter contato com quem importa diariamente é necessário, porque aquelas são as pessoas que vão estar com você quando todo o mundo sumir. Ninguém ficou com ele por obrigação. Mesmo com todas as complexidades e complicações de sua família bagunçada, eles ficaram porque o amam.”
Por isso, Gyllenhaal afirmou ter sentido a responsabilidade. “Foi uma filmagem muito cheia de emoções, muitas risadas, muitas lágrimas, algum sangue e muito suor. Eu queria fazer um trabalho digno para alguém que eu admiro tanto, com quem aprendi tanto. Estava interpretando alguém que é mais forte que eu.” Desta vez, ele não estava preocupado com o que o público ou a indústria iam achar, apenas com o que Jeff ia pensar. “É uma grande responsabilidade interpretar alguém como ele. Porque sei que, não importa o que se passar na minha vida, não vou ser capaz de entender a dor que ele atravessou.” A recompensa, disse, veio quando Jeff assistiu e comentou ao final: “Bom trabalho”. “O que, para ele, é um comentário efusivo”, disse Gyllenhaal.