Gilberto Braga
Dramaturgo
E quem é que escrevia os dramas brasileiros que Tarcísio Meira, Paulo José, Eva Vilma e tantos outros levavam para a TV? Gilberto Braga, mais do que qualquer outro dramaturgo, ajudou a mostrar o Brasil visto pela TV e, como consequência, construiu um modo de arte, o folhetim de televisão, que seria marca da cultura do país. Uma forma de entender o alcance de sua obra é passear pelos personagens mais marcantes, quase sempre vilões. “Quem matou Odete Roitman?”, o país inteiro indagou, em 1989, curioso para saber quem atirara na figura interpretada por Beatriz Segall, de Vale Tudo, que não tinha vergonha de dizer a respeito do cotidiano carioca: “É um povo preguiçoso, isso aqui é uma mistura de raças que não deu certo”. Braga morreu em 26 de outubro, aos 75 anos, de infecção generalizada.
![LUIS-GUSTAVO—BETO-ROCKFELLER—TV-Tupi.jpg Luis Gustavo](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/12/LUIS-GUSTAVO-BETO-ROCKFELLER-TV-Tupi.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Luis Gustavo
Ator
Em abril de 1969, uma reportagem de VEJA chamava a atenção para o sucesso do “herói sem caráter”, um Macunaíma moderno criado por Bráulio Pedroso, com direção de Lima Duarte e Walter Avancini. “Beto, um jovem de classe média baixa, é um tipo disposto a todos os golpes menores para subir até o ambiente da burguesia paulista”, anotava o texto. “Ao lado de alguns momentos de lirismo e bondade, mente, trai, ilude a todos, ilude-se, foge do trabalho.” Eis o Beto Rockfeller interpretado por Luis Gustavo, um dos mais conhecidos personagens da TV brasileira. Ele morreu em 19 de setembro, aos 87 anos, de câncer no intestino.
![ORLANDO-DRUMMOND-ATOR-ARQUIVOS-181329.jpg Orlando Drummond](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/12/ORLANDO-DRUMMOND-ATOR-ARQUIVOS-181329.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Orlando Drummond
Ator e Dublador
“Te dou o maiorrrrrr apoio”, dizia o “Seu” Peru da Escolinha do Professor Raimundo, esticando os erres. Namorador, logo avisava: “Use-me e abuse-me”. Sem falsa modéstia, resumia a graça de uma figura espalhafatosa, colorida e de gosto polêmico com um outro bordão adesivo: “Peru é cultura, cheio de ternura”. O ator a dar vida ao caricato personagem era Orlando Drummond, carioca nascido durante a gripe espanhola, em 1919, e que morreu em meio à pandemia do novo coronavírus, em 27 de julho, mas não de Covid-19. Tinha 101 anos e um outro capítulo menos conhecido na longeva carreira: a voz do Scooby-Doo e de tantas outras criaturas que fizeram fama na televisão brasileira era dele.
![PAULO-GUSTAVO—INSTAGRAM-@PAULOGUSTAVO31.jpg Paulo Gustavo](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/12/PAULO-GUSTAVO-INSTAGRAM-@PAULOGUSTAVO31.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Paulo Gustavo
Ator e Diretor
Na onda em que surfou a comédia brasileira na última década, Paulo Gustavo foi rei — ou, como ele preferia, rainha. Os números em torno do humorista circulavam na casa do milhão. Minha Mãe É uma Peça, trilogia iniciada em 2013, com a qual o ator arrastou aos cinemas mais de 25 milhões de espectadores, somou mais de 300 milhões de reais em uma bilheteria sem precedente para o filão. Dona Hermínia, a querida e histriônica personagem, inspirada na própria mãe do ator, fez gargalhar brasileiros de todas as classes sociais. A morte de Paulo Gustavo, em 4 de maio, aos 42 anos, de Covid-19, deu nome e rosto à tragédia sanitária que levou quase 620 000 brasileiros.
![JEAN-PAUL-BELMONDO—GettyImages-76568201.jpg Jean-Paul Belmondo](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/12/JEAN-PAUL-BELMONDO-GettyImages-76568201.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Jean-Paul Belmondo
Ator
Para os americanos, não havia dúvida: aquele ator francês revelado em Acossado, de 1960, dirigido por Jean-Luc Godard, o filme inaugural da nouvelle vague, lembrava gigantes como Marlon Brando e James Dean, dado o vigor físico, o olhar irônico e o jeitão permanentemente desdenhoso com o cotidiano das relações em sociedade. O tom natural de interpretação de Jean-Paul Belmondo, como quem caminha pelos bulevares parisienses ao lado de Jean Seberg, com o The New York Herald Tribune em mãos, seria tão influente quanto os filmes em preto e branco de Godard e François Truffaut. Ele morreu em 6 de setembro, aos 88 anos, em Paris, de causas não reveladas pela família.
![CHRISTOPHER-PLUMMER—GettyImages-90716631.jpg Christopher Plummer](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/12/CHRISTOPHER-PLUMMER-GettyImages-90716631.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Christopher Plummer
Ator
“Fui treinado vocal e fisicamente para os textos de Shakespeare. Para fazer um papel ruim como o de Von Trapp, foi preciso usar todos os truques para preencher a carcaça vazia do personagem. Esse maldito filme me segue como um albatroz.” Era desse modo, rancoroso, que o ator canadense Christopher Plummer se referia ao capitão Georg von Trapp do inesquecível e querido filme musical A Noviça Rebelde, de 1965. Ele nunca conseguiu escapar do viúvo e pai de sete filhos que educa a prole de modo frio, até ter seu coração derretido pela delicadeza de Maria, a freira interpretada por Julie Andrews. Plummer morreu em 5 de fevereiro, aos 91 anos.
Publicado em VEJA de 29 de dezembro de 2021, edição nº 2770