Tarcísio Meira
Ator
O genuíno incômodo de ter virado o maior de todos os galãs brasileiros levava Tarcísio Meira, ele e seu imenso sorriso, a buscar personagens avessos à imagem do sujeito boa-praça, galanteador e elegante. O maldoso Renato da novela Roda de Fogo, de 1986, era a antítese do bonitão e valente João Coragem, de Irmãos Coragem, de 1970. O Cristo Militar de A Idade da Terra, de Glauber Rocha, de 1980, também foi um modo de fugir do lugar-comum. A VEJA, em entrevista de 2019, ele já vislumbrava, com a modéstia dos grandes, o que representou para a dramaturgia no Brasil. “Ninguém gosta de pensar que o fim está chegando. Mas ele está chegando para mim. A essa altura da vida, muitos colegas da minha idade se foram. Daqui a pouco, vou eu. Talvez eu deixe um vazio nas pessoas.” Ele morreu aos 85 anos, em 12 de agosto, de Covid-19.
Eva Wilma
Atriz
Poucas atrizes foram tão versáteis na história da televisão e do cinema brasileiros. Não por acaso, quando se decidiu escolher a intérprete das personagens Ruth e Raquel, da primeira versão da novela Mulheres de Areia, de 1973, escrita por Ivani Ribeiro, o nome de Eva Vilma soou unânime. Não haveria ninguém melhor para levar ao ar, simultaneamente, a mocinha e a vilã. Ela ia do riso ao choro, da ternura à aspereza, com rara habilidade. Não por acaso, Alfred Hitchcock pensou nela para o filme Topázio, de 1969 — o papel ficaria com a alemã Karin Dor. Pouco antes de morrer, em uma peça on-line, na quarentena imposta pela pandemia, ela disse uma frase que ecoará ainda por muito tempo: “Adeus é para quem deixa de sonhar”. Morreu em 15 de maio, em São Paulo, aos 87 anos, em decorrência de câncer no ovário.
Paulo José
Ator e diretor
Em uma entrevista de Leila Diniz ao Pasquim, o mais conhecido jornal alternativo do país nos anos 1960 e 1970, um dos entrevistadores perguntou na lata: “Qual é o ator com quem você mais gosta de trabalhar?”. A resposta: “Paulo José. Essa é mole de responder”. Os dois tinham trabalhado juntos em Todas as Mulheres do Mundo, lançado em 1966. O ator gaúcho, de vozeirão imponente, gestos firmes e delicados ao mesmo tempo, era capaz de interpretar todos os personagens do mundo. Nenhum foi mais querido do que o mecânico Shazan, que fazia dupla com o Xerife interpretado por Flávio Migliaccio. Ele faria depois extraordinária carreira como diretor — foi um dos responsáveis pela minissérie Agosto, de 1993. Sofria havia anos de Parkinson. Morreu em 11 de agosto, aos 84 anos, no Rio.
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Publicado em VEJA de 29 de dezembro de 2021, edição nº 2770