Mário Gomes: ambulante, sim. E daí?
O ex-galã de 67 anos reaparece como garoto-propaganda de funerária e conta que, depois de entrar para a “lista negra” da Globo, vive de vender sanduíches

Ser garoto-propaganda de uma agência funerária lhe causa algum constrangimento? Minha filha, hoje em dia caiu na rede é peixe. Eu sou um trabalhador, tenho filhos menores de idade para sustentar. Faço do limão uma limonada.
O senhor também tem um trailer de sanduíches naturais na praia. Não dá mais para viver da carreira de ator? Não dá, e sofro muito por isso. Nunca imaginei que passaria por nada igual. Mas não me deixo abater e encaro o trabalho de ambulante, que é meu ganha-pão. Tenho veia empreendedora. Agora minha profissão mesmo é ator. Estou rodando três filmes neste momento.
Seu último papel de peso em uma novela foi em 2008. Falta espaço na TV para atores mais velhos? A questão não é essa. Tanto assim que Fernanda Montenegro e Lima Duarte são mais velhos do que eu e ainda ganham bons papéis. Ao longo de décadas ajudei a emplacar novelas de sucesso e, sem falsa modéstia, continuo bonitão.
Por que então foi dispensado da Globo? Desde que me envolvi com a Betty Faria, o Daniel Filho (diretor de novelas e ex-marido da atriz) cismou comigo e me colocou na lista negra. Com o tempo, as portas foram se fechando. Meus personagens passaram a ser desprestigiados e tive de voltar a fazer testes de elenco.
O senhor publicou recentemente um post de apoio ao governo Bolsonaro e à criação do partido Aliança pelo Brasil. A carreira política lhe interessa? Já fui sondado, mas não tenho intenção de me candidatar. Não sou político. Só estou lutando por um Brasil melhor e admiro o Bolsonaro.
Críticos do governo afirmam que ele caminha em direção à volta do autoritarismo. Isso o preocupa? Como vou me preocupar com o retorno do autoritarismo se a ditadura nunca existiu de fato? O que aconteceu é que o Brasil corria perigo e os militares evitaram a expansão do comunismo. Bolsonaro está no lugar certo.
O senhor apoia a escolha de Regina Duarte para a Secretaria da Cultura? Sim. Acho que com ela a Lei Rouanet não vai mais privilegiar artistas famosos, que conseguem milhões e milhões.
Publicado em VEJA de 25 de março de 2020, edição nº 2679