Quando Marina Sena está por perto, os amigos dizem que há um tal de “efeito Marina” no ar: dona de uma inabalável e elevada autoestima, a cantora de 24 anos teria o super-poder de evocar nos outros a mesma postura. “É só conviver um pouquinho comigo que a pessoa começa a se sentir toda, toda”, conta ela a VEJA, aos risos, erguendo os braços como quem se solta em uma balada. Também é esse o sentimento de quem que dá play em De Primeira, primeiro álbum solo da mineira que logo caiu nas graças do público: só no Spotify, as faixas somam quase 7,5 milhões de reproduções. O número pomposo já na estreia vem de um esforço de divulgação maciça nas redes sociais – e uma mãozinha extra de celebridades como o rapper Djonga e a comediante Clarice Falcão, admiradores da nova artista que a elogiaram publicamente.
O título do disco faz jus: Marina acertou na mosca em seu primeiro voo sozinha desde que saiu dos grupos Rosa Neon e A Outra Banda da Lua, expoentes da música alternativa nacional até pouco tempo atrás. Com a distância imposta pela pandemia, ela decidiu que era hora de seguir carreira solo e se afastou de ambas as bandas. “Comecei sem muita pretensão, mas, isolada em casa, cantar sozinha era a única coisa que ocupava a minha mente. Quis continuar nas bandas, mas entendi que seria impossível de conciliar”, conta Marina pelo Zoom, ajeitando cachos esparsos do cabelo. As despedidas dos grupos foram tranquilas: os membros do Rosa Neon também optaram pela carreira solo e se afastaram com a derradeira A Gente É demais; já a Outra Banda da Lua inaugurou uma nova fase sem a vocalista, em janeiro deste ano, depois de lançar um último EP. Daí por diante, a artista recolheu as composições que havia feito para si ao longo de cinco anos e encontrou o produtor Iuri Branco, com quem lançou as dançantes Me Toca e Voltei Para Mim, com mais de 2 milhões de visualizações somadas no YouTube.
A repercussão dos dois singles foi um bom termômetro para o lançamento do tropical De Primeira, que hoje firma Marina Sena como uma revelação do pop brasileiro. Com visual em tons avermelhados e carregado de strass brilhantes, o disco chega tão chamativo quanto a cantora. Cheias de refrões chicletes e reivindicações típicas da nova juventude feminina, que canta sobre paixão, flerte, ciúme e pirraça, as músicas bebem do pop latino e transmitem um quê da sensualidade faceira de Sônia Braga, a eterna Gabriela dos anos 1970. Ao mesmo tempo, vibram autenticidade: “Meu pop é despretensioso, porque não tenho a menor intenção de usar o que chamam punchline, aquelas frases prontas que sempre dão sucesso. Minha música tem a minha cara, leva as palavras que eu falo desde a minha infância e os sentimentos que eu não tenho vergonha alguma de sentir”, conta.
Para ela, se assumir em todas as formas é uma libertação – e a conquista da autoconfiança, raiz do tal “efeito Marina”, a blinda de comentários desagradáveis. Vinda da pequena Taiobeiras, cidade no norte mineiro de apenas 33.000 habitantes, Marina lembra que a personalidade “de doida da cidade” sempre incomodou muita gente, e ela, a princípio, tentava domar a expressividade. As críticas iam do tamanho do short às poses que fazia (“mostravam foto minha para o meu pai, que nem celular tinha!”, esbraveja). “Eu achava que estava fazendo tudo errado o tempo todo. Aí me deu um estalo: se isso é errado, vou errar mais ainda. Me descobri artista e descobri minha autoestima no processo. Fiquei gata do dia para noite; beleza é uma questão de energia”.
E ela garante: De Primeira dá possibilidade para que seus ouvintes sintam o mesmo. “Fiz esse álbum para representar todas as gostosas e todos os gostosos do Brasil”, resume risonha. “E olha que somos muitos, viu?!”