Filho de imigrantes judeus russos, o americano Kirk Douglas, nascido Issur Danielovitch, dizia ter tido “uns quarenta empregos” antes de se tornar estrela do cinema. Trabalhava fazendo bicos como entregador de jornal para ajudar a família, até ir para a faculdade, onde percebeu a vocação para atuar. A estreia viria nos palcos da Broadway, em 1941. A carreira do novato, porém, foi interrompida pela II Guerra. Kirk serviu na Marinha até ser ferido numa explosão. Recuperado e de volta ao lar, arrumou as malas em Nova York e partiu para Hollywood, que vivia a efervescência de sua era de ouro. O rosto de traços marcantes e a disposição física de quem dispensava dublês ajudaram o incansável ator a virar figura onipresente nos estúdios — entre 1949 e 1956, ele somou três indicações ao Oscar. Fez dramas, faroestes, filmes de guerra e épicos. A grandeza de Kirk ia além da tela. Ele usou a fama estelar para desafiar a caça às bruxas movida pelo macarthismo em Hollywood. Contratou o roteirista Dalton Trumbo, perseguido e proscrito por ser comunista, para escrever o hoje clássico Spartacus (1960), dirigido por Stanley Kubrick. Trumbo e outros talentos da época, quando conseguiam um trabalho, assinavam com pseudônimo. Kirk exigiu que ele usasse seu nome real nos créditos, numa atitude de extrema coragem naquele período. Pai de quatro filhos, entre eles o popular Michael Douglas, Kirk morreu na quarta-feira 5, aos 103 anos, de causa não divulgada, em Los Angeles.
Publicado em VEJA de 12 de fevereiro de 2020, edição nº 2673