Kengo Kuma, o arquiteto versátil que faz desde estádio até galinheiro
Nome badalado no meio, o japonês tem a madeira como queridinha e foi o responsável pelo estádio de abertura dos Jogos Olímpicos em Tóquio
Em 1964, o nadador americano Don Schollander, então com 18 anos, encantou o mundo ao ganhar quatro medalhas de ouro e bater três recordes mundiais na Olimpíada de Tóquio. Sentado em frente à TV, um garoto japonês de 10 anos acompanhava o evento admirado, mas seu encanto não era voltado ao nadador, mas ao palco da disputa: o imponente Ginásio Nacional de Yoyogi, projetado pelo arquiteto Kenzo Tange. “Aquilo me deu confiança de que um japonês poderia projetar um edifício que superasse os de qualquer outro país”, contou à imprensa japonesa Kengo Kuma, que, 57 anos depois, é um dos arquitetos mais badalados do país, e o responsável pelo projeto do Estádio Olímpico Nacional de Tóquio, que foi palco das celebrações de abertura e encerramento da última edição dos jogos.
Tendo a madeira como matéria prima principal, Kengo se diferencia do imaginário popular da arquitetura japonesa contemporânea ao apostar na tradição e simplicidade. O futurismo não tem espaço em suas obras, que se misturam ao ambiente como se naturalmente fizessem parte da paisagem. “Ele tem uma capacidade de arquitetar coisas com uma inteligência e o uso mínimo de materiais que o tornam único. Ele não é um arquiteto hightech que usa só os metais, o titânio, ele é um cara da junta, da madeira, do ar, da água”, explica Marcello Dantas, que trabalhou com Kengo durante o projeto da Japan House em São Paulo, um prédio antigo na Avenida Paulista completamente revitalizado pelo arquiteto japonês.
Workaholic nato, Kuma não é dos mais seletivos com os seus projetos: ele faz de tudo um pouco. Além de assinar o Estádio Olímpico de Tóquio, com capacidade para 68.000 pessoas, e o imponente Museu V&A, na cidade de Dundee, na Escócia, Kengo tem no currículo uma loja da cafeteria Starbucks e até o galinheiro da Casa Wabi, no México. E galinheiro, aqui, não é nenhum termo metafórico usado na arquitetura, mas a casa das galinhas mesmo, toda construída a partir de tábuas de madeira carbonizada.
Nascido em 1954, na cidade de Kanagawa, Kuma se graduou em arquitetura pela Universidade de Tóquio, em 1979, onde hoje atua como professor. Ele é o fundador da Kengo Kuma & Associates, que emprega mais de 150 funcionários e tem centenas de projetos arquitetônicos espalhados pelo mundo. Adepto do menos é mais, ele costuma reaproveitar materiais e suas obras têm mais relação com o ambiente em que estão inseridas do que com suas próprias vontades. “Não quero que esses edifícios sejam um reflexo meu. Alguns arquitetos tentam empurrar suas ideias para um museu, enquanto eu tento mergulhar no espírito do local e encontrar sua essência”, disse Kuma.
Confira abaixo galeria com grandes projetos do arquiteto: