Desde que se posicionou como candidato à presidência dos Estados Unidos, o rapper Kanye West, apoiador de Donald Trump, levantou rumores de que sua candidatura, de forma proposital ou não, poderia dividir os votos do democrata Joe Biden nas próximas eleições. Biden, vice-presidente durante a gestão de Barack Obama, é um nome forte entre a comunidade negra americana, grupo que pode pender para West, beneficiando Trump no resultado final. Seria West, então, um cavalo de Troia republicano? A dúvida de tom conspiratório tem ganhado cada vez mais força.
Em entrevista, West foi confrontado pela revista Forbes sobre a teoria, ao que o rapper não negou e respondeu de forma confusa. Em vez de dizer que concorria à presidência (running for president, em inglês), ele disse que estava “caminhando para o presidente” (walking for president). Em seguida, tentou corrigir, dizendo que caminhava rumo à vitória. Quando o repórter disse que ele não tinha chances de ganhar, West respondeu: “Não vou discutir com você. Jesus é rei”.
A teoria de que West seria só uma peça na candidatura de Trump tem crescido nos Estados Unidos. Uma apuração dos jornais americanos The New York Times e Intelligencer revelou que há seis pessoas trabalhando na campanha de Kanye West com relações estreitas com o partido republicano. Uma delas é a advogada Lane Ruhland, que trabalhou para a campanha de Trump em 2016 durante a recontagem de votos em Wisconsin e este ano representou o presidente americano em uma ação movida contra uma emissora de televisão. Nesta semana, ela entregou às autoridades eleitorais de Wisconsin as assinaturas para West participar da corrida eleitoral no estado. Outra questão é que, numericamente, West não tem chances de ganhar, já que perdeu o prazo para ser candidato em diversos estados americanos. Porém, ainda pode participar das eleições em regiões que são pontos-chave, como Ohio, Wisconsin, Arkansas, Virgínia Ocidental e Vermont. O que seria suficiente para dividir o eleitorado de Biden.
Diagnosticado com transtorno bipolar, West tem feito declarações confusas e desconexas em entrevistas e em um comício, onde gritou que “quase” matou a filha, ao criticar o aborto. Até sua postura tem sido apontada como uma cortina de fumaça, bem desenhada, para dispersar análises mais profundas além da superficialidade das redes sociais, que se dividem entre os fãs preocupados com a saúde mental do cantor, e os que insistem em chamá-lo de “louco”.
A relação amigável entre Trump e West não é segredo. Em 2018, durante um encontro na Casa Branca, o rapper exibiu um pôster em que dizia: “Keep America Great #Kanye2024” (Mantenha a América ótima) insinuando uma possível continuação do governo Trump com ele no poder, em 2024. Na quinta-feira, 5, o presidente americano disse que “gosta muito do Kanye”. “Não, eu não tenho nada a ver com ele entrar nas eleições. Teremos que ver o que acontece”, disse Trump, em um tom muito mais amigável do que o comum, quando o assunto são seus concorrentes.
Apesar de ter falado, em julho, após confirmar sua candidatura, que estava rompendo com o presidente americano e que “tiraria o chapéu vermelho” da cabeça, o rapper ainda mantém um bom relacionamento com o governo atual. Segundo ele, está previsto em setembro um encontro com a Secretária da Educação, Betsy DeVos, para falar sobre o currículo escolar pós-coronavírus.
Segundo a Forbes, West rejeitou várias tentativas de esclarecer quem estava dirigindo sua estratégia eleitoral e se está sendo amparado por autoridades afiliadas aos republicanos.