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Josephine Baker se torna primeira mulher negra no Panteão de Paris

Monumento francês homenageia a cantora e ativista que ficou conhecida não só pela música mas também pela luta contra o racismo e o nazifascismo

Por Marcelo Canquerino Atualizado em 30 nov 2021, 17h08 - Publicado em 30 nov 2021, 16h36
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  • Após anos de esforços de amigos e familiares, a artista e ativista franco-americana Josephine Baker (1906-1975) ganhará, nesta terça-feira, 30, uma homenagem no Panteão de Paris. Ela será a primeira mulher negra a integrar o monumento, que serve de morada para grandes figuras históricas francesas, como os filósofos Jean-Jacques Rousseau (1712-1789) e Voltaire (1694-1778) e o escritor Alexandre Dumas (1802-1870). A honraria vem em um momento em que as tensões sobre imigração e identidade nacional voltaram a tomar o centro dos debates na corrida presidencial do ano que vem.

    A cerimônia será presidida pelo presidente Emmanuel Macron e terá como foco o legado de Baker não apenas como cantora, mas também como símbolo de resistência para a comunidade negra e figura chave para o combate do nazismo e do fascismo. A pedido da família, o corpo da artista continuará enterrado em Mônaco, local onde ela morreu aos 68 anos em 1975 vítima de hemorragia cerebral. No Panteão foi colocado, por membros da Força Aérea Francesa, um caixão com punhados de solo dos quatro lugares em que Baker viveu: St. Louis, cidade americana onde ela nasceu, Paris, local onde se consolidou como artista, Château des Milandes, onde ela morava, no Sudoeste da França e, por fim, Mônaco, seu último lar.

    Josephine Baker teve grande destaque na cena musical parisiense na década de 1950.
    Josephine Baker teve grande destaque na cena musical parisiense na década de 1950. (Hulton Archive/Getty Images)

    Nascida no Missouri, em 1906, Josephine Baker deixou a escola cedo, aos 13 anos de idade. Já nessa época, tão jovem, a garota viu com seus próprios olhos a violência pela qual os negros passavam. Anos depois, aos 19 anos, deixou os Estados Unidos rumo à França – assim como muitos outros artistas negros que fugiam da segregação racial. “Eu simplesmente não suportava a América. Fui uma das primeiras americanas negras a me mudar para Paris”, disse em entrevista ao jornal inglês The Guardian em 1974. A fama na cidade das luzes começou com aparições no cenário musical. A cantora deixou um grande legado pela forma como subverteu as fantasias coloniais e estereótipos referentes a mulher negra.

    Com a chegada da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Baker logo se prontificou a ajudar na luta contra a ascensão do nazifascismo. Apesar de aparentar ser o enredo de um filme policial, ela decidiu trabalhar para a inteligência da França contra os nazistas a partir de 1939 – e obteve sucesso na empreitada. Como espiã, Baker coletou informações de oficiais alemães que conheceu em festas, além de dados importantes sobre o ditador italiano Benito Mussolini que foram enviados a Londres escritos com tinta invisível em suas partituras. Ela também conseguiu licença de piloto e tornou-se tenente no corpo auxiliar feminino da Força Aérea Francesa – algo raro e difícil para uma mulher na época.

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    Sua atividade na luta pelos direitos civis é amplamente reconhecida. A artista foi a única mulher a falar durante a marcha de Martin Luther King que aconteceu em Washington, em 1963. De volta à França, Baker adotou 12 crianças de diferentes origens étnicas como forma de lutar contra a discriminação. Em suas palavras: “o ódio racial não é natural. É uma invenção do homem”.

    “Toda a vida de Baker foi dedicada à busca por liberdade e justiça”, disse o gabinete de Emmanuel Macron. Ela será a sexta mulher e a quarta pessoa não branca e receber uma honraria no monumento parisiense.

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