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Herdeiros de Tarsila do Amaral contestam autenticidade de quadro recém-descoberto

Obra batizada como "Paisagem 1925" foi certificada pela administração do espólio da artista, mas parcela significativa da família se opõe ao processo

Por Amanda Capuano Atualizado em 21 ago 2024, 20h35 - Publicado em 21 ago 2024, 19h00
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  • Herdeiros de Tarsila do Amaral assinaram uma carta aberta nesta quarta-feira, 21, se opondo à certificação de uma obra atribuída à pintora pelo espólio. No texto enviado à imprensa, a nota diz que “mais de 50% dos sucessores” de Tarsila “foram surpreendidos pela noticia da autenticação da tela, anunciada no Jornal Nacional na última segunda-feira, 19. “A obra referida na matéria jornalística não foi submetida ao colegiado do Catálogo Raisonné, portanto, sua autenticidade não foi legitimamente reconhecida”, diz o documento, completando que “os herdeiros mais próximos de Tarsila do Amaral nunca ouviram falar dessa obra, sendo inverossímil que ela tenha permanecido oculta por tanto tempo”.

    A obra em questão seria um quadro datado de 1925 que, segundo a OMA Galeria e a Tarsila S.A, empresa que administra o espólio da artista, fora pintada por Tarsila no interior de São Paulo, depois do retorno da pintora de Paris. A obra está sob propriedade de Moisés Mikhael Abou Jnaid, um brasileiro-libanês que teria recebido o quadro do pai — que, por sua vez, comprara-o de presente de casamento à esposa. A pintura ficou no Brasil até 1976, quando foi realocada para o Líbano durante a mudança da família. No final do ano passado, no entanto, retornou ao país, e foi apresentada ao galerista Thomaz Pacheco, da OMA Galeria.

    Segundo Paola Montenegro, sobrinha bisneta de Tarsila e gestora da Tarsila S.A., a obra passou por um processo de análises científicas e posterior certificação comandado por Douglas Quintale. Outros herdeiros, no entanto, questionam a validade da autenticação. “Os argumentos apresentados na matéria pela Sra. Paola Montenegro, para certificar a obra como autêntica, são inadmissíveis, por afirmação de que ‘basta um técnico de laboratório dizer que a tinta e a tela são compatíveis com a época’. Essa declaração revela total despreparo dessa pessoa e falta de capacidade técnica para apresentar, em rede nacional, uma conclusão dessa”, diz o comunicado.

    Confira a seguir o texto na íntegra:

    Carta aberta de herdeiros de Tarsila do Amaral

    No último dia 19 de agosto, mais de 50% dos sucessores da renomada artista plástica Tarsila do Amaral
    foram surpreendidos por uma matéria veiculada no Jornal Nacional, afirmando que a família da artista
    Tarsila do Amaral teria confirmado a autenticidade de uma tela depois de quase 100 anos.

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    Diante da gravidade de tal situação e do risco à credibilidade das obras de Tarsila do Amaral, seus
    herdeiros e sucessores, que esta subscrevem, manifestam seu completo e total repúdio às afirmações
    lançadas por pessoas que não estão autorizadas pela maioria da família para alterar e certificar a
    autenticidade de obras da renomada artista plástica.

    Durante quase quatro anos, foi elaborado o Catálogo Raisonné das obras de Tarsila do Amaral, sob a
    coordenação de um colegiado de especialistas, reconhecidos nacional e internacionalmente. Nesse
    catálogo foram enumeradas e avaliadas as obras de Tarsila do Amaral, servindo de verdadeiro guia
    para museus, casas de leilão, colecionadores, historiadores, etc.

    A obra referida na matéria jornalística não foi submetida ao colegiado do Catálogo Raisonné, portanto,
    sua autenticidade não foi legitimamente reconhecida. Tal obra foi vista, ao que indicam, por poucas
    pessoas, apareceu numa feira de arte em abril desse ano e, de acordo com o galerista Thomaz Pacheco,
    o dono seria Mikael Abouij Naid que teria adquirido diretamente de Tarsila em 1951.
    Os herdeiros mais próximos de Tarsila do Amaral nunca ouviram falar dessa obra, sendo inverossímil
    que ela tenha permanecido oculta por tanto tempo.

    É importante ressaltar que um pequeno grupo de pessoas, dentre elas herdeiras de Tarsila do Amaral,
    não possuem legitimidade para afirmar a autenticidade de obras de Tarsila do Amaral, sem submetê-la
    ao colegiado que elaborou o Catálogo Raisonné. Nem mesmo a empresa TALE (Tarsila do Amaral
    Licenciamento e Empreendimentos S.A.) possui qualquer autorização para promover tal ato.

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    Os argumentos apresentados na matéria pela Sra. Paola Montenegro, para certificar a obra como
    autêntica, são inadmissíveis, por afirmação de que “basta um técnico de laboratório dizer que a tinta
    e a tela são compatíveis com a época”. Essa declaração revela total despreparo dessa pessoa e falta de
    capacidade técnica para apresentar, em rede nacional, uma conclusão dessa, sem qualquer discussão
    prévia com os demais herdeiros de Tarsila do Amaral, colocando em risco todo acervo da artista.
    Após anos de divulgação e discussão com as maiores autoridades do Brasil e de outros países, a artista
    Tarsila do Amaral passou a ser reconhecida internacionalmente e suas obras, cuja autenticidade é
    demonstrada no Catálogo Raisonné, são objeto de grande admiração e valorização.

    Essa tentativa irresponsável de divulgar uma obra de Tarsila, não indicada no Catálogo, põe em risco
    a credibilidade conquistada durante anos de árduo trabalho, podendo sujeitar pessoas de boa-fé a
    adquirirem obras não autênticas. Essa atitude vem se repetindo no curso dos últimos meses, tendo
    havido a inacreditável tentativa de venda de NFTs (non-fungible token) de obras não autênticas de
    Tarsila do Amaral, iniciativa essa que foi suspensa por determinação judicial, após a apresentação de
    medida judicial urgente de herdeiros de Tarsila do Amaral.

    Os herdeiros e sucessores de Tarsila do Amaral, que esta subscrevem, não compactuam com esse
    desrespeito às obras autênticas da artista e informam que adotarão as medidas cabíveis que a gravidade
    do caso exige.

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