(Atenção: este texto contém spoilers do último episódio de Game of Thrones)
Há 2.955 dias, Game of Thrones estreava na grade da HBO. Neste domingo 19, a saga repleta de recordes e superlativos encontrou seu fim após 73 episódios. Foi um final um pouco injusto com o legado da série, que acabou ganhando uma temporada final enxuta e, por consequência, com roteiros apressados e atrapalhados.
O capítulo trouxe os resultados da destruição causada por Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) sobre Porto Real, durante sua batalha contra Cersei Lannister (Lena Headey). Foram mais de setenta minutos de acertos políticos com diálogos, que eram uma marca da série em temporadas passadas. O ritmo só foi quebrado com uma surpresa dos roteiristas: a morte de Dany pelas mãos de ninguém menos do que Jon Snow (Kit Harington).
Na primeira parte do capítulo, em um jogo belíssimo de cena, a Targaryen surgiu como se as asas de seu dragão Drogon fizessem parte dela própria, indicando a sua ascensão final como rainha de Westeros. Logo em seguida, Daenerys acusou Tyrion Lannister (Peter Dinklage) de traição por ter libertado o irmão, e este rebateu dizendo que pelo menos ele não era o responsável por um massacre na cidade. Preso, o anão teve uma longa conversa com Jon Snow – que acabou por definir todo o destino do reino.
O diálogo sobre a matança causada por Dany e seu dragão ajudou a explicar o que o roteiro corrido e atrapalhado dos cinco episódios anteriores havia bagunçado. Tyrion argumentou que ela sempre esteve cercada de violência, mas antes era exaltada por atacar apenas homens maus. Com a batalha contra Cersei, havia mostrado como podia ser perigosa, ainda mais depois de revelar seu desejo de conquistar novas terras com o argumento de que estaria libertando outros povos. A transição da protagonista de justiceira para tirana seria possível e teria seu sentido, se não tivesse sido desenhada de forma tão condensada na reta final.
Jon defendeu Daenerys diante de Tyrion, mas entendeu que vidas inocentes estariam em jogo caso a companheira continuasse no poder, como demonstrou a seguir. Ao encontrá-la, momentos depois de ela finalmente ter tocado o Trono de Ferro pela primeira vez, deu-lhe um último beijo – e a matou.
Foi uma cena bonita, mas revoltante para os fãs que passaram oito temporadas acompanhando a Targaryen tentando conquistar os Sete Reinos e a viram morrer praticamente nos degraus do Trono sem sequer ter sentado nele antes. Ninguém, aliás, sentou de fato no Trono de Ferro. Símbolo de toda a trama, ele foi destruído por Drogon após o dragão ter percebido que a mãe estava morta. O corpo da rainha foi visto pela última vez sendo carregado pelo dragão, que voou para longe.
Sem Daenerys, as casas de Westeros foram obrigadas a escolher seu próximo governante, em uma espécie de democracia dos nobres e com uma reunião com tom cômico desnecessário e que soou estranho no contexto geral do episódio. No fim, quem assumiu o novo Trono (não mais de ferro), por indicação de Tyrion, foi Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright), o mesmo garoto que deu início a todas as intrigas da série ao resolver escalar uma torre no primeiro episódio e flagrar a rainha Cersei e seu gêmeo amante – pelo menos não foi Jon Snow, o cavaleiro mais inábil dos Sete Reinos. Ao lado do Corvo de Três Olhos, no conselho real ficaram Tyrion, Sam Tarly (John Bradley), Sor Davos (Liam Cunningham), Bronn (Jerome Flynn) e Brienne (Gwendoline Christie), todos renegados em algum momento da trama.
O foco do fim foi a família dos lobos, mostrando que eles sempre foram os verdadeiros heróis da saga. Além de Bran no novo trono, as sequências finais mostraram os destinos, até bem coerentes, dos seus irmãos. Arya Stark (Maisie Williams), resolveu abandonar Westeros e desbravar o que existe a oeste do continente. Sansa (Sophie Turner) manteve o Norte como um reino independente e foi aclamada como rainha de Winterfell. Já Jon Snow, como castigo por ter matado a rainha, foi enviado para a Patrulha da Noite, onde junto com o povo selvagem e seu lobo Fantasma praticamente se mudou para o território além da Muralha.
Game of Thrones marcou a história da televisão, ainda que tenha sido prejudicada por tropeços nos roteiros na reta final. Agora, aos fãs desapontados, só resta esperar George R.R. Martin terminar os livros que deram origem à série para saber se ela realmente fez jus a seus personagens. Mas quando (e até se) isso vai acontecer é o spoiler que todos querem saber.