Uma das poucas mulheres em competição pela Palma de Ouro este ano, a francesa Eva Husson conseguiu chamar a atenção neste fim de semana do Festival de Cannes. Seu filme, Les Filles du Soleil (As Garotas do Sol, em tradução literal), teve sua primeira exibição em sessão de gala precedido por um protesto histórico com 82 mulheres da indústria, entre elas a presidente do júri, Cate Blanchett. Ali, em um dos lugares mais glamourosos do mundo, o grupo pedia por igualdade salarial. Já na sala de cinema, o filme mostrava uma realidade bem mais dura que a do tapete vermelho europeu.
A atriz iraniana Golshifteh Farahani (de Paterson e Piratas do Caribe) interpreta Bahar, comandante de um batalhão formado só por mulheres curdas, que lutam contra extremistas no Oriente Médio. A inspiração veio da vida real. Quando mulheres da minoria curda yazidi foram mantidas como prisioneiras e escravas sexuais após o massacre promovido pelo Estado Islâmico em suas vilas, no Iraque, em 2014. A estimativa é que mais de 5.000 pessoas morreram, 7.000 foram sequestradas e cerca de 500.000 fugiram e se tornaram refugiados. Algumas dessas escravas, mais tarde, se livraram de seus raptores e se juntaram à luta contra eles.
A personagem fictícia Bahar representa uma dessas muitas mulheres. Após quatro anos sendo vendida, transitando entre as casas dos terroristas, a antiga advogada consegue fugir. Na busca pelo filho pequeno, ela se torna uma combatente e ascende até o posto de comandante.
Eva Husson filma com o máximo de delicadeza possível as atrocidades vividas pela moça, que tem seu passado narrado por flashbacks. As cenas se intercalam com outras dela em campo de batalha e em conversas com a jornalista francesa Mathilde (Emmanuelle Bercot). O longa ganha força com as boas imagens de guerra e ação, mas se mostra ingênuo ao apostar em uma mensagem sobre a busca da verdade, liberdade e igualdade — pacote louvável, mas pouco plausível dentro da realidade a qual ele se propõe mostrar.