O cantor inglês Harry Styles, de 26 anos, estava prestes a encerrar um show em San Jose, na Califórnia, quando viu na plateia o cartaz de uma fã que dizia: “Por sua causa, eu vou sair do armário para os meus pais”. O artista interrompeu a apresentação e perguntou o nome da garota (Grace) e de sua mãe (Tina). Em seguida, disse ao público que faria um anúncio importante e gritou: “Tina, ela é gay!”. Não satisfeito, organizou um coro com os milhares de fãs presentes e todos gritaram, em uníssono, a mesma frase. Deu certo. A mãe aceitou a orientação sexual da filha. Esse episódio ilustra a persona que Styles formou no imaginário de seu jovem séquito de seguidores. De símbolo sexual adolescente, imagem cirurgicamente construída durante sua passagem pela boy band One Direction, ele se transformou em um ídolo maduro e badalado do pop rock, amparado pelo discurso de defensor irrevogável da liberdade de que cada um pode ser o que bem quiser. A começar por ele mesmo.
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Descoberto em 2010, aos 16 anos, no reality show britânico The X Factor, quando ele formou com outros quatro participantes o One Direction, Styles trilha um caminho semelhante àquele seguido por astros da música que começaram a carreira da mesma forma. Caso de nomes como Ricky Martin, Robbie Williams, Beyoncé, Justin Timberlake e Camila Cabello (veja o quadro), que hoje são muito maiores e mais relevantes do que os grupos que lhes alçaram à fama mundial. Em comum, eles souberam galvanizar com suas atitudes, roupas e músicas os anseios de suas gerações, seja nos anos 80, ou na famigerada e tecnológica década de 2010.
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Com o One Direction, Styles vendeu 10 milhões de álbuns — um número estonteante para a indústria musical. Embora talentosos, os rapazes seguiam a regra enlatada da boy band: músicas pasteurizadas e sem personalidade entoadas por rostinhos bonitos. A fórmula promoveu uma rápida ascensão, seguida de uma queda brutal. Resultado: o grupo durou míseros cinco anos. Livre e solto, Styles incorporou uma nova postura comportamental da chamada Geração Z — formada por nascidos na segunda metade dos anos 90 em diante. Trata-se de jovens mais engajados politicamente e menos preocupados com rótulos.
Embora Styles, por exemplo, tenha namorado beldades como Taylor Swift e Kendall Jenner, publicamente ele diz ser dono de uma sexualidade fluida, ou seja, não faz questão de dizer que é hétero, ou gay, nem se preocupa se hoje quer usar terno e amanhã uma saia. Tal postura fez dele um nome popular também no meio da moda. Garoto-propaganda da Gucci, no ano passado ele foi ao badalado baile Met Gala, em Nova York, com uma camisa da grife italiana cheia de babados, rendas e transparências, combinando com brincos de pérolas, unhas pintadas, calça e salto alto. Neste mês, estampou a capa da revista Vogue americana usando um vestido longo. Fã de lendas como Prince, Freddie Mercury, David Bowie, Mick Jagger e Elton John, Styles afirma que “as roupas existem para divertir”. O estilo (ou a falta dele) tem motivado reações raivosas — uma ativista conservadora americana repudiou a capa da revista, e culpou Harry e a sociedade que o criou “pela degradação dos homens”.
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Além desse tipo de controvérsia, Styles se mantém de pé, inegavelmente, por sua qualidade musical. O divisor de águas foi seu segundo e mais recente álbum, Fine Line, lançado em dezembro de 2019 e que recebeu sua primeira indicação da carreira-solo ao Grammy, nas categorias de melhor clipe, melhor álbum pop vocal e melhor performance pop solo. Daí saíram hits como a dançante Golden e a romântica Adore You. A refrescante e sugestiva Watermelon Sugar, uma das melhores do disco, atingiu nada menos que 900 milhões de execuções no Spotify ao discorrer sobre um rapaz que sente saudade de ficar inebriado com a doçura da melancia — sim, há uma conotação sexual aí. No YouTube, seus vídeos já ultrapassaram, juntos, a marca de 2 bilhões de visualizações. Não à toa, a revista Variety o elegeu o maior produtor de hits do ano, superando Justin Bieber, Lady Gaga e Taylor Swift.
Para Styles, o céu é o limite. Além da música e da moda, ele tem se aventurado em outras áreas. Em 2017, interpretou um soldado em Dunkirk, de Christopher Nolan, e vai estrelar um romance gay ao lado de Chris Pine. Recentemente, entrou como sócio na construção de uma arena para shows em Manchester, no Reino Unido, em um projeto orçado em 350 milhões de libras. Em um mundo onde as aparências costumam falar mais alto, Harry Styles prova que viver pelas próprias regras, de fato, está na moda.
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ATIVISTA
Menudo
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REBELDE
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PODEROSA
Destiny’s Child
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LATINA
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Publicado em VEJA de 2 de dezembro de 2020, edição nº 2715
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