(Atenção: este texto contém spoilers do terceiro episódio da oitava temporada de Game of Thrones)
A noite é escura e cheia de terrores, já dizia a feiticeira Melisandre (Carice Van Houten). E escura ela foi, no episódio de Game of Thrones que exibido no domingo, 28, na HBO – tão escura e nebulosa que toda a aguardada Batalha de Winterfell virou um grande e indistinguível borrão, pelo menos para quem assistia no primeiro horário de exibição na TV a cabo (na HBO Go, a qualidade estava ligeiramente melhor, mas a escuridão ainda atrapalhava a experiência).
Na madrugada, reclamações de fãs (brasileiros e estrangeiros) inundaram a internet, e não sem razão: quem era aquele soldado sendo esfaqueado? Aquilo ali era um morto ou um vivo? O que está acontecendo com os dragões?
Felizmente, ninguém (tão) importante foi morto em meio à massa. Perderam-se alguns companheiros, é verdade (o dedicado Jorah Mormont de Iain Glein e o redimido Theon Greyjoy de Alfie Allen serão os mais sentidos), mas tudo o que ocorreu de relevante ganhou o apoio da iluminação pelos focos de fogo que se espalhavam pelo campo.
O fogo, aliás, foi a primeira grata surpresa da noite. Melisandre, que há algum tempo se retirara para o sul, reapareceu para acender as espadas dos Dothraki como a de Beric Dondarrion (Richard Dormer), o misterioso personagem que voltou dos mortos dezenove vezes, mas que agora não pode mais reviver (e que, evidentemente, encontrará aqui seu destino). O gesto deveria levantar o moral dos soldados de Winterfell, mas acabou aterrorizando-os muito mais quando estes viram os pontos luminosos à distância sendo apagados, um por um. O efeito foi arrepiante.
O que se seguiu foi a definição do caos, como uma Batalha dos Bastardos muito mais confusa e destrutiva (pelo menos, para as centenas de figurantes sem nome). Lutou-se no solo e no ar, fora e dentro do castelo, enquanto Bran (Isaac Hempstead Wright)… Bem, é difícil saber o que Bran estava fazendo. Daenerys (Emilia Clarke) e Jon Snow (Kit Harington) montaram seus dragões e lutaram juntos como se a conversa do episódio anterior nunca tivesse acontecido, mas acabaram perdendo um dos seus mascotes alados para o dragão de gelo.
A briga de gigantes, entretanto, não foi nem de longe tão impactante quanto o que aconteceu fora do campo, nos corredores e dentro das criptas onde aqueles que não eram aptos para a batalha se reuniam para esperar. Pense bem, era uma cripta durante uma luta contra uma criatura capaz de levantar os mortos… O desastre era anunciado.
Apesar disso, todas as figuras centrais que se escondiam ali (em especial Sansa Stark, personagem de Sophie Turner; Tyrion Lannister, de Peter Dinklage; Varys, de Conleth Hill; Missandei, de Nathalie Emmanuel; e Gilly, de Hannah Murray) conseguiram sobreviver com certa facilidade, abençoadas com um tipo de sorte inexplicável que já vem contaminando a série há alguns anos.
Ninguém, porém, pode acusar o episódio de previsibilidade diante do que veio depois. Oito temporadas após inaugurarem a série com seus horripilantes olhos azuis, longe de esclarecerem todos os mistérios que envolviam sua existência e sem sequer tocarem o dedo no suposto nêmesis representado por Bran Stark, os Caminhantes Brancos foram eliminados. Assim, de repente, por um único golpe de faca de Arya Stark (Maisie Williams). Quem apostou nessa resolução merece mesmo ganhar todos os bolões.
Colocar a pequena e letal Arya como a salvação de todo o seu povo foi uma solução muito interessante, mas também levantou uma névoa fina de decepção quando se percebeu que, no fim, toda a mitologia dos mortos e do inverno não passava de mais uma distração diante da luta (humana e muito viva) pelo trono de ferro. Pois ainda faltam três episódios e é difícil acreditar que a batalha final será simplesmente contra Cersei (Lena Headey), quando a obra inteira martelou nos ouvidos do público a promessa de que “havia uma guerra maior do que aquela”. Pelo jeito, ela não era tão maior assim.