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Eliane Giardini: ‘Público aceitou a maldade de Nádia’

Para atriz, problema da personagem é cultural e também se deve à bolha em que ela vive, sem ter contato com a realidade dos outros

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 7 fev 2018, 10h07 - Publicado em 7 fev 2018, 10h05

Nascida em Sorocaba, cidade do interior de São Paulo, a atriz Eliane Giardini tem um bom motivo para comemorar o sucesso de sua personagem na novela das 21h, O Outro Lado do Paraíso, da Globo. Nádia tinha tudo para ser rejeitada pelo público, afinal tem tudo o que se combate em uma pessoa. É racista, fútil, adora as propinas recebidas pelo marido, Gustavo, trata mal os empregados. Ela reúne todas as “qualidades” para ser odiada pelo público. Mas não é o que a atriz percebe. “Ela foi aceita e não rejeitada, era um grande risco fazer uma personagem assim, que fala coisas absurdas”, afirma.

Com a aceitação, Nádia entra para o rol das vilãs de novela que, apesar de praticar a maldade, caem nas graças do público pela força interpretativa das atrizes. É o caso de Renata Sorrah que, em Senhora do Destino (2004), construiu uma Nazaré preconceituosa, imoral e violenta. Ou Adriana Esteves como Carminha, em Avenida Brasil (2012), mulher inescrupulosa a ponto de tentar enterrar a inimiga viva.

Com Nádia, o autor Walcyr Carrasco trata de um tema atual: o racismo. “Procuro conscientizar as pessoas daquele racismo que é o mais comum no Brasil, o racismo velado, que não bate, mas ofende e trata o semelhante como um ser inferior”, comentou ele, em sua conta no Instagram.

De fato, em O Outro Lado do Paraíso, Eliane vive com os filhos Bruno (Caio Paduan) e Diego (Arthur Aguiar), e o marido, um juiz nada honesto da cidade de Palmas interpretado por Luis Melo, que adora quebrar o galho dos amigos e, em troca, receber malas de dinheiro. Entre as amigas, estão Sophia Aguiar (Marieta Severo) e Lorena (Sandra Corvelone), que, assim como Nádia, só enxergam o que pode render dividendos. “Essas pessoas não se veem assim porque vivem em uma bolha, entre iguais”, diz Eliane. “Vivem fechadas em condomínios, frequentam os mesmos lugares e não enxergam a realidade dos outros.”

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Logo no começo da trama, a socialite Nádia mostra a que veio. Em sua casa, trabalhava a quilombola Raquel (Erika Januza), que ouviu coisas absurdas da patroa por ser pobre e negra. Pior, o filho Bruno se apaixona por ela. A mãe consegue separar os dois. Mas na segunda fase se dá a reviravolta: a humilde garota consegue se formar e agora é uma reconhecida e honesta juíza na cidade. “Você não pode imaginar como dói em mim fazer essas cenas”, conta Eliane. “Eu tinha medo de que as pessoas confundissem a atriz com a personagem, mas isso não aconteceu. Tenho 30 anos de personagens simpáticos, amorosos e isso conta também. Não fui rejeitada, ainda bem, acho que não estava preparada para isso.”

Segundo a atriz, Nádia quer mostrar que o que faz “vem de berço”. “São pessoas educadas dessa forma e vão passar isso para os filhos. Daí, uma pessoa que vem com olhar de fora percebe o grotesco que é a situação, mas eles não — está tudo certo: as propinas que recebem vêm em nome da amizade, liberar uma pessoa da prisão em nome da amizade. Afinal, amigo serve para isso, para facilitar, cortar caminho. É exatamente nesse tipo de bolha que minha personagem reside”, diz. “Os filhos trazem ares novos. Ao se apaixonar por uma juíza correta, que luta contra corrupção e preconceitos, o filho, que é delegado, começa a ver com mais clareza as falcatruas dos pais. Por causa da Raquel, ele passa a ver os pais de outra forma”, comenta ainda Eliane.

A novela, que é recheada de personagens de caráter duvidoso, teve um início pesado, com cenas de agressão, estupro, mas, em seguida, a trama ficou menos truculenta. É um dos motivos que explicam o aumento do índice de audiência, chegando a bater recorde.

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“Todos os personagens da novela refletem os problemas atuais da humanidade”, observa Eliane. “É o caso de Sophia, uma verdadeira psicopata, e o filho Gael (Sérgio Guizé), que bate na mulher. Tenho muita pena desses personagens, os filhos da Sophia são pessoas boas, mas absolutamente estragadas”, diz a atriz, explicando que isso se deve ao fato de a mãe ter criado os filhos sem amor e ensinado a eles que o dinheiro compra tudo.

Como em toda trama, principalmente das 21 horas, a de O Outro Lado do Paraíso lida com assuntos espinhosos. “A novela tem um cardápio bem variado de temas, mas isso é bom, isso liberta, ajuda todas essas causas. A gente vive um tempo muito complicado, mas todo mundo está debatendo, é um tempo importante que estamos vivendo”, garante ela.

Eliane Giardini tem também cenas mais leves, que acontecem principalmente quando está entre quatro paredes com o marido. Em diversas oportunidades, o público se diverte com ela realizando fantasias dele, como quando se veste de enfermeira, policial, odalisca ou Marilyn Monroe. “Por incrível que pareça, é uma família disfuncional, mas existe afeto ali. Por isso, acredito que ainda há esperança, pela capacidade que eles têm de se amar.”

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