O Festival de Veneza abriu sua 77ª edição nesta quarta-feira, 2, contra muitas expectativas do setor. Por causa da pandemia, os grandes festivais de cinema do ano acabaram cancelados, caso de Cannes, ou adaptados para o mundo virtual.
Sendo assim, o encontro de astros, produtores e profissionais da área na cidade italiana hoje foi motivo de comemoração para a indústria do cinema. Em uma coletiva de imprensa, representantes dos principais festivais europeus defenderam a área, com direito a uma menção ao controverso caso da Cinemateca, em São Paulo, no Brasil.
Seis diretores de festivais se uniram ao representante de Veneza, Alberto Barbera, para a abertura: Carlo Chatrian (Berlinale, da Alemanha), Thierry Frémaux (Festival de Cannes, da França), Lili Hinstin (Festival de Locarno, da Suíça), Vanja Kaludjeric (Festival de Roterdã, da Holanda), Karel Och (Festival de Karlovy Vary, da República Checa) e José Luis Rebordinos (Festival de San Sebastian, da Espanha).
“Um dos poucos efeitos positivos da quarentena foi que começamos a nos falar mais”, afirmou Barbera, em uma coletiva de imprensa ao lado dos colegas. O italiano confirmou que os diretores chegaram a cogitar uma colaboração entre os festivais este ano, mas que a melhor solução encontrada foi a reunião para a leitura de uma carta, lida durante a cerimônia de abertura da noite, por todos os sete representantes.
Thierry Frémaux, de Cannes, foi mais incisivo na perspectiva para as próximas edições do festival: “O cinema não pode mais ficar fora da sociedade. Precisamos pensar sobre ecologia, igualdade de gênero, em todas as pessoas envolvidas na produção dos filmes”. Frémaux ainda citou um caso brasileiro durante a sua fala. “Precisamos expressar o nosso suporte à Cinemateca do Brasil, que está em perigo, por causa do governo atual. Temos que apoiar o cinema e os festivais.”
Sem o repasse do orçamento de 2020 do governo, de 14 milhões de reais, a Cinemateca, que funciona como centro de pesquisa e eventos culturais, além de abrigar 200.000 títulos audiovisuais, que registram a história do país, ficou afundada em dívidas. No desfecho mais recente, em agosto, os funcionários da instituição foram demitidos pela Associação Comunicação Educativa Roquette Pinto, que entregou as chaves da Cinemateca para a secretaria especial de cultura do governo federal.