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De quem é o samba, afinal?

No Rio de Janeiro, dirigentes promovem mudanças nas letras e até nas melodias dos sambas-enredo. Beija-Flor chegou a juntar duas composições

Por Rafael Lemos
5 nov 2011, 10h42

“A primeira vez que mexi num samba foi em 1974, no Salgueiro. O samba do Zé Di tinha 42 linhas e decidimos cortar para 28. Eu cuidei da parte harmônica e o João (Trinta) da letra”, conta Laíla.

Os compositores encaram os sambas-enredo como verdadeiros filhos. E, por isso mesmo, sabem que eles são feitos para o mundo – ou, no caso, para conquistar a nota máxima nos desfiles das escolas de samba. E aí, vale tudo: mudanças na letra e na melodia, e até fusão com samba rival. Para 2012, seis das 13 agremiações optaram por meter a mão na obra original dos compositores.

De todas as interferências, a mais temida pelos compositores é, de longe, a fusão de sambas. Trata-se de um procedimento arriscado, sempre olhado com muita desconfiança pelos segmentos das agremiações. Este ano, a atual campeã Beija-Flor de Nilópolis recorreu a esse artifício, unindo os dois sambas finalistas. Assim, a versão registrada no CD oficial conta com 12 compositores: J. Velloso, Adilson China, Carlinhos do Detran, Silvio Romai, Hugo Leal, Gilberto Oliveira, Samir Trindade, Serginho Aguiar, Jr Beija-Flor, Ricardo Lucena, Thiago Alves e Romulo Presidente.

Ouça aqui os sambas-enredo do Grupo Especial do Rio de Janeiro 2012

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As fusões surgiram no Salgueiro, em 1975, com o samba As minas do rei Salomão. Na época, o carnavalesco era Joãosinho Trinta, que tinha Laíla como seu braço-direito. A decisão foi tão bem sucedida que a escola sagrou-se campeã naquele ano. Hoje, Laíla é o todo-poderoso diretor de Carnaval da Beija-Flor e, como tal, responsável pela união dos sambas.

“Tem que ter conhecimento rítmico e melódico, mesmo que prático e não formal. O ideal é que não dê para perceber onde o samba foi juntado. Geralmente, precisamos mudar um pouco a estrutura. Em 1981, juntei três sambas da Unidos da Tijuca e acabei criando uma boa parte da melodia”, explica Laíla, que justifica a fusão desse ano: “A Beija-Flor estava dividida entre os dois sambas. Quando unimos os sambas, unimos também a comunidade. O resultado favoreceu o canto e a dança”.

Só na Beija-Flor, esta é a quinta vez que Laíla opta por juntar sambas. As experiências obtiveram sendo a última no tricampeonato de 2005. A habilidade musical de Laíla é reconhecida até pelas escolas rivais, que há muitos anos confiam a a ele a produção do CD oficial do Grupo Especial. O diretor de Carnaval ainda lembra da primeira vez que meteu a mão no samba alheio.

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“A primeira vez que mexi num samba foi em 1974, no Salgueiro. O samba do Zé Di tinha 42 linhas e decidimos cortar para 28. Eu cuidei da parte harmônica e o João (Trinta) da letra”, conta Laíla.

Outra escola do Grupo Especial do Rio que modificou seu samba para 2012 é a Portela. Lá, o presidente Nilo Figueiredo resolveu mudar o andamento da composição vencedora, além de trocar uma palavra.

Na Mangueira, o dedo do presidente Ivo Meirelles também se fez presente. No verso “Salve o novo Palácio do Samba”, a palavra “novo” foi acrescentada para atender à plataforma política do dirigente, que deseja construir uma nova quadra para a agremiação – de preferência, com uso de dinheiro público. Ivo, que também já presidiu a bateria da Verde-e-rosa, aproveitou ainda para puxar a sardinha para os ritmistas. No refrão do meio, transformou o verso “já começou a festa” em “a Surdo Um faz festa”, recorrendo ao apelido da bateria da escola.

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Na Porto da Pedra, o presidente Francisco José Marins, que é ex-compositor da escola, também se valeu das prerrogativas do seu cargo para fazer mexer à vontade no samba escolhido, alterando inclusive variações melódicas. Também houve mudanças nos sambas de Mocidade e Ilha do Governador. Tudo, segundo os dirigentes, para evitar surpresas desagradáveis na abertura dos envelopes com as notas dos julgadores.

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