Listas de melhores disso ou daquilo quase sempre são arbitrárias. Qual foi o melhor ano para a história da música no século XX? Alguns diriam que foi 1969, com o Woodstock, outros 1977 e a explosão do punk. Talvez 1998 e a ascensão do pop? David Bowie, porém, afirmava que foi 1971. “Estávamos criando o século XX naquele ano”, disse ele. Mesmo sem um consenso, é fato que 1971, em especial, abriga músicas e discos que foram capazes de mudar o mundo, seja pela mensagem que passavam de paz e direitos humanos, seja pela qualidade de suas canções, que reverberam até hoje.
A série documental 1971: O Ano em que a Música Mudou o Mundo, disponível na Apple TV+, fala sobre isso. Há 50 anos, algo grande aconteceu na música, inclusive no Brasil. Foi naquele ano que surgiu Imagine, de John Lenon e What’s Going On, do Marvin Gaye. Foi quando Carole King e Joni Mitchel desafiaram o machismo com discos como Tapestry e Blue. A seleção de hits é tão grande que os oito episódios da série documental passam voando. Talvez, seu único ponto negativo seja focar apenas no que acontecia nos Estados Unidos e na Europa. O ano de 1971 também foi fundamental para o Brasil, no auge da ditadura militar, com lançamentos como London, London, de Caetano Veloso, Construção, de Chico Buarque, Carlos, Erasmo, de Erasmo Carlos e Jardim Elétrico, dos Mutantes. A seguir, listamos cinco artistas que estão no documentário da Apple TV+ e explicamos a importância que eles adquiriram nos anos seguintes.
Imagine, John Lennon
Lançada um ano após o fim dos Beatles, Imagine se tornou um dos mais importantes hinos pacifistas do mundo. Criada em resposta à Guerra do Vietnã, a canção encoraja as pessoas a imaginar um mundo sem fronteiras, sem religião, enfim, um mundo em paz. “Você pode dizer que eu sou um sonhador. Mas eu não sou o único. Eu espero que um dia você se junte a nós e o mundo seja um só”, diz um trecho da letra.
What’s Going On, Marvin Gaye
No início dos anos 1970, nenhuma gravadora grande aceitava músicas de protesto. Canções assim não vendiam, dizia o mito. Marvin Gaye provou o contrário. A faixa foi inspirada por eventos reais de brutalidade policial testemunhados por Renaldo Benson, co-autor da faixa com Gaye e Al Cleveland. A canção, com uma deliciosa pegada soul, funk e jazz, questiona o que está acontecendo no mundo. Seu estrondoso sucesso provou que, sim, as pessoas queriam ouvir canções de protesto, abrindo caminho para dezenas de outros artistas.
The Man Who Sold the World e Hunky Dory, de David Bowie
David Bowie conseguiu o feito de lançar dois álbuns inesquecíveis em 1971. The Man Who Sold the World foi lançado em 1970 nos Estados Unidos, mas o ano que conta é o seguinte, quando ele o lançou no Reino Unido. O trabalho é apontado como um dos melhores de sua carreira. Já Hunky Dory é igualmente incluído nas listas de trabalhos memoráveis do artista, e conta com clássicos como Changes e Life on Mars?. Ambos os álbuns definiram a persona artística de Bowie que culminaria no ano seguinte com sua maior obra prima: The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, inspirando toda uma nova geração de músicos.
Tapestry, Carole King
Até hoje, Tapestry, de Carole King, é o álbum feminino que mais tempo ficou no topo da Billboard: 15 semanas consecutivas. O trabalho foi feito logo depois que ela se separou de seu marido e parceiro de composição, Gerry Goffin, em 1968. Todas as faixas foram escritas ou co-escritas por ela e conta com sucessos como (You Make Me Feel Like) A Natural Woman, imortalizada na voz de Aretha Franklin, e que virou um dos hinos do movimento feminista, além de You’ve Got a Friend, regravada depois por James Taylor.
Led Zeppelin IV, Led Zeppelin
A capa do quarto álbum do Led Zeppelin é uma das mais reconhecíveis do mundo. Foi nesse disco que a banda apresentou ao mundo o clássico Stairway to Heaven, além de outros hits como Black Dog, Rock and Roll e When the Levee Breaks. Neste álbum também o grupo revelou os quatro símbolos que seriam associados a cada um de seus integrantes. O disco é um dos mais vendidos do mundo, com 23 milhões de cópias comercializadas só nos Estados Unidos, e outras 40 milhões no restante do mundo. Com esta obra, o Led Zeppelin se firmou com uma das bandas de rock mais importantes do mundo, popularizando para sempre no imaginário popular a tríade sexo, drogas e rock ‘n’ roll.