Poucas cenas são tão familiares e nenhuma balada tão conhecida como as da abertura do drama britânico Carruagens de Fogo, de 1981, vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme, melhor roteiro original, melhor figurino — e melhor trilha sonora. A composição, hoje onipresente, escolhida em dez entre dez cerimônias de entrega de medalhas, virou sinônimo de esporte, sobretudo de corridas. Ficou tão batida que parece ruim — e, no entanto, é uma obra-prima de seu estilo. Foi composta pelo grego Vangelis, o pseudônimo de Evángelos Odysséas Papathanassíou. O tema instrumental — mistura de piano acústico com sintetizador, a um só tempo delicado e empolgante — acompanhava as cenas iniciais do filme, com atletas correndo à beira-mar, em câmera lenta. Nasceu com a alcunha de titles, porque brotou nos segundos iniciais da tela, mas logo foi batizado com o nome da produção.
Carruagens de Fogo, é claro, chegou ao topo das paradas de sucesso de todo o mundo. Ganhou ainda mais relevância quando Steve Jobs a escolheu como pano de fundo para a apresentação do primeiro Macintosh desenvolvido pela Apple, em 1984. Vangelis fez também outras trilhas cinematográficas, como as de Blade Runner e Desaparecido — Um Grande Mistério, ambas de 1982, mas ficará eternizado como o autor daquela toada que começa com tã tã tã tã tã tã… Vangelis morreu em 17 de maio, em Paris, de insuficiência cardíaca. Tinha 79 anos.
E no princípio era o verbo
O padre jesuíta belga radicado no Brasil Johan Konings levou onze anos para atravessar sua missão de vida: traduzir para o português a Bíblia tida como referência para a Igreja Católica no Brasil. O lançamento oficial ocorreu em 2018. Filósofo, filólogo e doutor em teologia pela Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, ele era professor titular da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) de Belo Horizonte. “Seu legado acadêmico, científico e humanístico pastoral é uma preciosa herança evangelizadora para a sociedade”, disse o arcebispo da Arquidiocese de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo. Konings morreu em 22 de maio, aos 80 anos, em decorrência de um aneurisma cerebral.
A sombra luminosa do pop
O compositor e produtor Bob Neuwirth foi figura influente à sombra da música pop americana dos anos 1960 e 1970. Ele esteve ao lado de Bob Dylan na turnê pela Inglaterra em 1965 e, dez anos depois, ajudou a montar a banda de apoio da excursão Rolling Thunder Revue, transformada em documentário por Martin Scorsese. É Neuwirth quem aparece, da cintura para baixo, de calça jeans, camisa listrada e uma máquina fotográfica na capa do álbum Highway 61 Revisited, de 1965. Ele compôs com Janis Joplin um dos clássicos da roqueira, Mercedes Benz (“Oh Lord, won’t you buy me a Mercedes-Benz? / My friends all drive Porsches”). Janis teria uma overdose fatal três dias depois de gravar a canção. Neuwirth morreu em 18 de maio, aos 83 anos, de causas não reveladas.
Publicado em VEJA de 1 de junho de 2022, edição nº 2791