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Datas: Breno Silveira, o cineasta da empatia

O diretor morreu aos 58 anos após sofrer um infarto fulminante no set de filme, na pequena cidade de Vicência, interior de Pernambuco

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h56 - Publicado em 20 Maio 2022, 06h00
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  • O diretor Breno Silveira costumava dizer que era um “cara emotivo”. “Se não for para chorar no fim do filme, então nem faço”, brincou ele em uma entrevista a VEJA no ano passado. Formado na tradicional École Louis Lumière, em Paris, o brasiliense tinha uma intimidade rara com a câmera e que ultrapassava o domínio técnico: dono de um olhar afiado para as mazelas do Brasil e de uma sensibilidade arrebatadora, ele via seus personagens não como objetos de estudo, mas como seres humanos dignos de empatia. A prova desse talento peculiar foi seu filme de estreia, o sucesso de bilheteria 2 Filhos de Francisco — que, em 2005, arrebanhou mais de 5 milhões de espectadores nos cinemas — número então inédito para um longa nacional. Ambientado no interior de Goiás, o roteiro segue o lavrador Francisco Camargo. Um homem que, em meio à miséria, sonha em transformar seus filhos em uma dupla sertaneja — resultando, mais tarde, na ascensão de Zezé Di Camargo e Luciano.

    A produção causou um efeito colateral inesperado na vida de Silveira: desde então, o cineasta passou a receber com frequência sugestões de histórias reais para ser adaptadas nas telas. Algumas passaram por seu crivo. É dele também a cinebiografia Gonzaga — De Pai pra Filho, assim como as séries Dom, do Prime Vídeo, e 1 contra Todos, da FX — essa última se tornou a obra brasileira com mais indicações ao Emmy Internacional. Para além de beber de tramas reais, as produções têm em comum uma temática que Silveira dizia ser seu xodó: a relação entre pais e filhos. “Em meio ao tráfico de drogas ou à violência, no fundo, o que eu quero é contar as histórias de famílias”, declarou.

    Um dos filmes mais bonitos de seu currículo, À Beira do Caminho, de 2012, resumia essa paixão. Um garoto pega carona com um caminhoneiro para tentar encontrar o pai que o abandonou. Na trilha, canções de Roberto Carlos carregavam na tinta emotiva. Silveira filmou todo o longa na esperança de que o cantor aprovasse o uso de suas músicas. O cantor não só aprovou como convidou o diretor para conduzir uma cinebiografia sobre sua vida. O projeto, porém, não ficou pronto a tempo. Rodando Dona Vitória, drama real sobre uma idosa que incomodou o tráfico de drogas carioca (interpretada por Fernanda Montenegro), Breno Silveira morreu no domingo, aos 58 anos, após sofrer um infarto fulminante no set do filme, na pequena cidade de Vicência, interior de Pernambuco. Um final com lágrimas.

    Publicado em VEJA de 25 de maio de 2022, edição nº 2790

     

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