A Globo foi criticada nas redes sociais por promover o que muitos entenderam como blackface no Show dos Famosos, do Domingão Faustão deste domingo. Na semifinal do grupo 2 do reality show do programa, que põe celebridades para representar cantores também célebres, a humorista Helga Nemeczyk pintou a pele para fazer uma performance como a cantora americana Beyoncé. Não demorou para que pipocassem queixas nas redes sociais — até porque a emissora acaba de ser criticada e notificada pelo Ministério Público pela representação social entendida como inadequada do elenco de Segundo Sol, folhetim que se passa em Salvador, a capital mais negra do país, que é dominado por brancos.
Não é a primeira vez que isso acontece nesse mesmo quadro: na final de 2017, o ator Nelson Freitas se pintou de negro para interpretar James Brown e, ao comentar a apresentação, Freitas revelou que “queria ser ‘negão'” como a lenda do soul americano.
A crítica a Segundo Sol é mais palpável — justificada, de fato — do que aquela dirigida ao Show dos Famosos. A essência do quadro é a metamorfose. Os participantes, com a ajuda luxuosa das equipes de maquiagem e figurino da Globo, se tornam outros. Assim, Helga já se transformou, por exemplo, na roqueira Janis Joplin, sem que houvesse protestos.
O blackface surgiu no teatro no século XIX e era mesmo, desde o início, racista. Personagens negros eram estereotipados e ridicularizados por atores brancos que se pintavam com cortiça queimada, por exemplo. Além da agressividade da chacota, o blackface evidenciava que não havia espaço para negros verdadeiros no teatro.
No Show dos Famosos, a representação de um cantor tem o tom de homenagem. Ser fiel ao original, aliás, é um requisito para obter uma boa pontuação no quadro. Se a queixa é pela pintura, o protesto deveria ser outro: deveriam, por exemplo, reivindicar que negros participassem e se pintassem de branco, se fosse preciso encarnar um cantor como Chico Buarque, digamos, com lentes de ardósia e tudo.
Confira abaixo algumas das reações negativas ao quadro: