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Conheça Tilda Swinton, atriz andrógina que dominou Festival de Cannes

Ex-colega de classe da Princesa Diana, ela fez carreira brilhante no cinema independente - e ganhou fama também por sua semelhança com David Bowie

Por Amanda Capuano Atualizado em 15 jul 2021, 17h01 - Publicado em 15 jul 2021, 15h17
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  • Depois de um ano de hiato por força da pandemia de coronavírus, o Festival de Cannes voltou a receber em seu tapete vermelho nomes célebres do cinema mundial. Entre as beldades que desfilam pela Riviera francesa, um rosto marcante, e já conhecido, ganhou destaque: o da atriz Tilda Swinton, veterana do cinema independente. A visibilidade tem explicação: com 35 anos de carreira, a atriz é figurinha carimbada em seis longas exibidos no festival, entres eles o badalado A Crônica Francesa, de Wes Anderson, e Memória, do tailandês Apichatpong Weerasethakul – ambos concorrentes à Palma de Ouro, a estatueta mais cobiçada do evento.

    Discreta com a vida pessoal e avessa às redes sociais, Tilda, de 60 anos, ganhou os holofotes com sua participação quase onipresente no tapete vermelho de Cannes, uma atenção raramente desfrutada na tranquilidade de sua casa no Norte da Escócia. Ao espectador menos dado a filmes-cabeça, sua imagem imponente, com um forte traço de androginia, é associada à vilanesca Feiticeira Branca, de As Crônicas de Nárnia, saga que estrelou entre 2005 e 2010 ou, mais recentemente, à anciã de Doutor Estranho, que também faz ponta em Vingadores: Ultimato. A atriz já contracenou com nomes queridinhos do cinema, como Leonardo Di Caprio, no drama A Praia (2000), e Brad Pitt e Cate Blanchett, em O Curioso Caso de Benjamin Button (2008).

    Não menos importante como fator que propulsionou sua fama é a curiosa e sempre festejada semelhança física com o camaleão (e também sexualmente fluido) David Bowie. Uma divertida teoria conspiratória sustenta que ambos, aliás, são na verdade a mesma pessoa. Ou que, de forma mais delirantemente hilária ainda, Bowie não teria morrido de fato em 2016: apenas se transmutado de vez em Tilda Swinton. Os dois chegaram a contracenar juntos em 2013, no clipe de The Stars (Are Out Tonight), em que Tilda interpreta a esposa de Bowie.

    Muito antes de ganhar espaço em blockbusters ou de ser comparada a Bowie, porém, Tilda já cravava seu nome na história do cinema. Sua estreia na atuação se deu em 1984, nos palcos The Royal Shakespeare Company, onde ingressou como uma forma de estreitar laços com os amigos que gostavam de teatro. Quatro anos depois, fez sua primeira aparição nas telas com o longa Caravaggio, do inglês Derek Jarman. Entre sua estreia e a morte de Jarman, em 1994, estrelou outros sete filmes do cineasta, que apresentou a atriz ao cinema independente, no qual ela conquistaria não só uma carreira de sucesso, mas também amigos de longa data. “Na época eram David Lean e Merchant Ivory, ou o Instituto de Cinema Britânico, onde eu fiz minha casa e encontrei minha tribo”, declarou em entrevista à Vogue, citando ainda Jarman, Peter Greenaway, Sally Potter e Peter Wollen como membros do clã. 

    Cannes
    Timothee Chalamet, Wes Anderson, Tilda Swinton e Bill Murray durante coletiva de ”The French Dispatch’ durante Festival de Cannes (P. Lehman/Barcroft Media/Getty Images)
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    O clubinho é tão coeso que The Souvenir Part II, um dos filmes em exibição em Cannes, é dirigido por Joanna Hogg, cineasta que Swinton conhece desde os 10 anos de idade. Outro que também compõe o hall artístico é o oscarizado Bong Joon-ho, com quem trabalhou em Okja (2017) e Expresso do Amanhã (2013). Recentemente, a atriz, conhecida por passear entre os gêneros com seu visual definitivamente não-binário, se revelou queer – um termo que vem de “excêntrico”, e abarca aqueles que não se encaixam nos padrões de gênero ou sexualidade, inclusive ela, que tem um casamento hetero. Sempre senti que eu era queer, estava apenas procurando por minha tribo, e eu achei. Tenho uma família com Wes Anderson, com Bong Joon-ho, com Jim Jarmusch, com Luca Guadagnino, com Lynne Ramsay, com Joanna Hogg”, enumera com carinho.

    Na contramão do êxodo cinematográfico que tem levado estrelas graduadas de Hollywood para a televisão e, principalmente, para o streaming, a atriz é fiel ao cinema, arte pela qual nutre genuína devoção. “Sou devota das grandes telas e, honestamente, quanto maior o escrutínio sobre elas, ou quanto mais eu sinto que não é algo que está sendo valorizado o suficiente, mais devota eu me torno”, declarou em entrevista recente, descrevendo-se como uma “nerd do cinema”.

    O amor pela arte, ainda bem, é recíproco, e vem sendo recompensado: além de um Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2007, pelo filme Michael Clayton, Tilda recebeu o cobiçado Richard Harris Award, honraria concedida pelo Instituto Britânico de Cinema (BFI) por sua contribuição artística. Em 2020, também foi nomeada como membro da associação do BFI, e roubou a cena no Festival de de Veneza ao receber o Leão de Ouro pela carreira bem-sucedida, além de marcar presença na lista das 25 melhores atrizes do século feita pelo The New York Times.

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    “Les Olympiades (Paris 13th District)” Red Carpet – The 74th Annual Cannes Film Festival
    Tilda Swinton e a filha Honor Swinton Byrne no tapete vermelho de Cannes (Stephane Cardinale/Getty Images)

    Nascida em Londres, em 1960, Katherine Matilda Swinton chegou ao mundo na capital inglesa, mas se considera, acima de tudo, escocesa. A autodeclaração faz sentido: os Swinton são uma família tradicional, e influente, da Escócia, com uma linhagem que remonta à Idade Média. Sua bisavó, Elizabeth Swinton, chegou a ter seu retrato pintado por John Singer Sargent, um privilégio desfrutado apenas pelos mais abastados. O pai, Sir John Swinton, era major do exército britânico e serviu como Lord-Lieutenant de Berwickshire, uma espécie de representante militar da coroa britânica, entre 1989 e 2000.

    Única mulher de quatro filhos, Tilda foi enviada a um colégio interno na Inglaterra aos 10 anos, tempos que ela relembra com pesar pelo bullying e solidão. Em uma das escolas, dividiu classe com Diana Spencer, que viria a se tornar a idolatrada Princesa Diana. “Acho que eles esperavam que eu me casasse com um duque e, quando ficou claro que isso não aconteceria, todas as apostas caíram por terra”, brincou sobre a família em entrevista ao Independent.

    Se a nobreza não é de seu feitio – ela chegou, inclusive, a se filiar ao Partido Socialista Escocês, e defende a independência do país – os artistas plásticos conquistaram lugar cativo em seu coração. Entre 1989 e 2003, foi casada com o pintor, e compatriota, John Byrne, com quem teve os gêmeos Honor e Xavier, nascidos em 1997. Hoje em dia, mora com o pintor alemão Sandro Kopp, com quem se relaciona desde 2004, e os filhos, que cresceram rodeados de arte. “Nossa casa é decorada com pinturas do pai e do padrasto, eles assistem a filmes feitos pelos amigos e leem livros escritos pelos padrinhos”, contou sobre os rebentos, que finalizaram a educação básica em uma escola co-fundada pela própria mãe, onde não há provas e o aprendizado é feito por meio da experimentação. Tilda e arte, em última instância, são indissociáveis.

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