O pequeno Kodi Smit-McPhee tinha apenas 8 anos de idade quando foi surpreendido por uma pergunta do pai que mudaria sua vida. “Nós estávamos consertando uma cerca nos arredores de casa e ele questionou se eu gostaria de tentar atuar, só por diversão”, contou o australiano à revista W Magazine. Dezessete anos depois, o garoto de 25 anos abocanhou um Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante e recebeu sua primeira indicação ao Oscar na terça-feira, 8, na mesma categoria. O papel que lhe rendeu os louros foi o tão sensível quanto misterioso Peter Gordon, que rouba a cena de Ataque dos Cães ao lado do bruto Phil Burbank de Benedict Cumberbatch. Curiosamente, Kodi e Peter têm mais em comum que o mero fato de compartilharem o mesmo rosto.
Assim como seu personagem, tido como “feminino demais” pelos fazendeiros machões de Montana, o ator se destaca por não corresponder aos esteriótipos da terra natal. Nascido em Adelaide, no sul da Austrália, o garoto pálido e franzino, de 1,88 m e 75 quilos, passa longe do visual de surfista galã associado aos astros do país dos cangurus – que o digam os irmãos Hemsworth, além de Mel Gibson e Hugh Jackman. O visual delicado, de traços andróginos, lhe rendeu azucrinações desde a infância. “Na Austrália, especialmente, os homens são criados com uma masculinidade tóxica. A forma como eu cresci, o jeito com que eu falo, as coisas por que eu me interessava na escola… eu me destacava dos demais”, já declarou Kodi – que, desde criança, se recusou a mudar para se encaixar nos padrões.
Filho do casal Sonja Smit e Andy McPhee, ele aprendeu o ofício de ator com o pai, que o treinava para os papéis até os 15 anos. Lutador profissional, Andy entrou no ramo da atuação por meio de um comercial de hambúrguer. Daí em diante, se apaixonou pela profissão, e passou essa devoção aos filhos – além de Kodi, sua irmã, Sianoa, também é atriz. “Meu pai é um easter egg em muitos dos meus filmes, vive aparecendo de fundo”, contou Kodi. Um exemplo mais direto dessa influência é o filme Romulus, My Father (2007), uma cinebiografia do filósofo australiano Raimond Gaita, e a primeira aparição de Kodi nas telas de cinema. Para se preparar para o teste do pequeno Raimond, Andy levou Kodi para a cidade natal do filósofo e fez o garoto, então com 10 anos, bater de porta em porta em busca de pessoas que conhecessem a família. Na audição final, os produtores ficaram embasbacados com o fato de que o menino conhecia mais do personagem que eles próprios. Pelo papel, foi eleito o melhor ator jovem do ano pelo Instituto de Cinema da Austrália, e a família se mudou para Los Angeles para que ele buscasse voos mais altos.
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No currículo, o ator precoce tem filmes como o pós-apocalíptico A Estrada (2009), ao lado de Viggo Mortensen, o terror Let Me In (2010), com Chloë Grace Moretz, e o badalado X-Men: Apocalypse, que o lançou de vez no radar de Hollywood em 2016, como o mutante Noturno. Nem tudo, porém, foi tão fácil para Kodi. Aos 16 anos, o menino foi diagnosticado com Espondilite anquilosante, uma doença autoimune que atinge as articulações da coluna, quadris, joelhos, ombros e outras regiões, causando dores severas. “No Ocidente, os médicos lhe dizem que não há cura e que você será um paciente farmacêutico pelo resto da vida. As drogas ficam cada vez piores, até que você se torna incapaz”, explicou ele, que prefere seguir “tratamentos” orientais ligados a teorias holísticas. “Conquistei coisas além do que os médicos conseguem explicar. Principalmente através da psicanálise e observando os traumas reprimidos por estar na indústria ainda jovem.” Agora, mais maduro, ele empresta a experiência de vida para seus personagens, com um traquejo de veterano. Só falta um Oscar na estante – quem sabe?