Desde que estreou nos palcos da Broadway em 1988, O Fantasma da Ópera tornou-se um clássico inegável do teatro musical. Mas, apesar de permanecer vivo por décadas a fio até os dias de hoje, o espetáculo encontrou barreiras que não conseguiu quebrar – além dos estragos causados pela pandemia em sua audiência, a história não envelheceu tão bem. A peça de Andrew Lloyd Webber já está com os dias contados: sua última apresentação será em 18 de fevereiro de 2023, pouco tempo após seu 35º aniversário, em janeiro.
A recuperação do setor de teatro após o isolamento social não foi fácil, e O Fantasma da Ópera está no hall dos espetáculos que, ao menos até agora, lutaram em vão para se reerguer. A receita de bilheteria continua flutuando desde sua reabertura. A produção chegou a arrecadar mais de 1 milhão de dólares por semana, mas também sofreu queda significativa, ficando na casa dos 850 000 dólares. Segundo reportou o New York Post, o show está perdendo 1 milhão de dólares por mês.
Diferentemente de grandes peças contemporâneas da Broadway, como as populares Wicked e Hamilton, o Fantasma continua a ser assombrado pela falta de público – e o problema pode ir além do impacto da pandemia. A história, baseada no livro de Gaston Leroux, de 1909, não se relaciona tão bem com o público da nova geração como acontecia no passado. Ambientada no século XIX, a narrativa acompanha Christine Daae, aspirante a cantora que tem como professor o misterioso Fantasma, homem desfigurado que vive em uma casa de ópera em Paris. Os problemas surgem quando a figura sombria escolhe Christine como musa, ao mesmo tempo em que a jovem se apaixona por Raoul, um amigo de infância.
O triângulo amoro presente na peça passa longe das histórias de amor açucaradas e acaba esbarrando em uma “escolha de Sofia” às avessas: seria melhor ficar sozinha a ter de escolher entre os dois “mocinhos”. Os pretendentes da protagonista são homens controladores e abusivos. Enquanto o Fantasma disfarça obsessão como amor genuíno, o amigo de infância pouco se importa com Christine e a usa apenas para conseguir o que quer. No século XIX, essa poderia ser uma grande história de amor, mas atualmente a trama morna não passa de um espelho de relacionamentos abusivos sem nenhum tipo de discussão – e talvez por isso não desperte mais tanta emoção.