Com críticas políticas, Baiana System lança disco ao vivo com Gilberto Gil
'Gil Baiana Ao Vivo em Salvador' registra o show feito em novembro de 2019 para mais de 30 mil pessoas
Os dois álbuns que o grupo Baiana System lançou no mercado em menos de um mês refletem, ainda que involuntariamente, a vida antes e durante a pandemia. A aglomeração, o aperto e, claro, a alegria do Carnaval, que combinam com a vida antes do coronavírus, estão escancarados em Gil Baiana Ao Vivo em Salvador, que chegou nesta quinta-feira, 30, nas plataformas de streaming e registra a apresentação que a banda fez com Gilberto Gil em novembro de 2019 na Bahia.
A desaceleração da vida cotidiana e as profundas reflexões que as pessoas foram submetidas após a implementação das medidas de distanciamento social combinam com o outro lançamento, Futuro Dub. O álbum foi lançado há quase 15 dias e é uma releitura de O Futuro Não Demora (2008), remixado com a estética lenta e linear do dub feito pelo produtor Buguinha.
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Clique e AssineA comparação é do vocalista Russo Passapusso e do guitarrista Roberto Barreto. “O dub é meditação e reflexão. É gostoso de ouvir em casa. O ao vivo tem suor e comunicação direta com o público. É a rua”, analisa Passapusso. Em ambos os trabalhos, no entanto, a crítica política está explícita no repertório, com destaque para os clássicos de Gil, Nos Barracos da Cidade e Pessoa Nefasta, escolhidas a dedo para entrar no álbum.
“Quando encontramos com o Gil para ensaiar, ele fez questão de incluí-las”, revelou Barreto, afirmando que as letras dos hits de Gil se encaixaram perfeitamente na postura combativa e política que tem marcado a carreira do Baiana, que não economiza nas críticas ao presidente Bolsonaro. “Tenho uma coisa positiva para dizer sobre Bolsonaro”, conta Barreto. “Ele nunca nos decepciona. Sempre podemos esperar o pior dele. E ele sempre entrega o pior. Estamos vivendo um momento limite”, critica.
Gravar com Gilberto Gil foi a realização de um sonho dos músicos, que se aproximaram do ícone baiano por causa do Carnaval. “É o Gil que dá a régua e o compasso para o Baiana”, diz Passapusso, destacando os clássicos Extra, Sarará Miolo e Emoriô, que também entraram no repertório. “O encontro ocorreu sem nada predeterminado a não ser que tocaríamos as músicas de Gil com o DNA do Baiana System”, completa.
O registro do show, que ocorreu no Parque de Exposições de Salvador para mais de 30 mil pessoas, também ganhou uma versão em LP, disponível para encomenda por meio do Noize Record Club.
Seja com a experiência sensorial e estética dos remixes de Futuro Dub, seja no calor e na emoção do registro ao vivo de Gil Baiana, ouvir os dois lançamentos do Baiana System nos faz escapar, mesmo que por breves momentos, para uma feliz e aglomerada realidade alternativa.